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Doris Day

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Inevitável que sejamos presos a referências. Quem viveu no Brasil entre 1964 e 85 terá como referência a “época da ditadura”. Meu pai referia-se ao período da Revolução de 1932 como marco de mudanças em sua vida. Contava-me que, casado e com um filho, esquivou-se de incorporar-se às forças paulistas, missão que coube a um irmão dele, meu tio. Mas, o “esquivar-se” deveu-se à insistência do meu avô que temia a morte do primogênito em combate, deixando viúva e filho ainda pequeno.

Pessoas importantes ou famosas também se tornam referências de épocas. Marcam, por suas características e atuações, o modo de ser de determinados períodos. Acontece muito com atores de cinema que conhecem grande popularidade junto ao público. São identificados por grandes parcelas da população que neles veem imagens de determinado modo de ser e viver que a elas parece interessante e correto.

Com Doris Day aconteceu vestir o figurino de uma época na qual o conservadorismo a elegeu como ícone. Atriz e cantora era imensa sua popularidade. Quase sempre trabalhando em filmes de enredo mais leve, desempenhava o papel da mocinha sempre pronta a resistir aos avanços dos homens, preservando sua virgindade. Foi assim que dos anos cinquenta até os sessenta do século passado destacou-se. Seus últimos filmes, no final dos anos sessenta já não faziam tanto sucesso. A Guerra do Vietnam e fatos ocorridos no cotidiano mudariam o modo de ver dos norte-americanos. Tanto que mesmo o programa televisivo de Doris seria encerrado no início dos anos setenta. Nascida em 1922 Doris já não era então uma mocinha.

De Doris Day guardei imagens de seus filmes ao lado de Rock Hudson. No primeiro deles “Confidências à meia noite” eis Doris no papel da mocinha a resistir os encantos de um a grande sedutor, representado por Hudson.

Doris Day acaba de morrer aos 92 anos de idade. Impossível evitar que seu desparecimento não nos conduza a um passado no qual o modo de vida e os valores contrastam com o que hoje presenciamos. Eram outros tempos os quais, pelo menos assim nos parecia, existia alguma magia em viver e fazer parte do mundo.