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Atores se despedem
Não sei dizer com exatidão o tipo de sentimento que desenvolvemos em relação a grandes atores. Na verdade existe uma vasta gama de sentimentos que vão da simples admiração até mesmo à paixão de alguns aficionados tanto pelo teatro quanto pelo cinema. Quanto a mim sempre fui curioso por biografias de modo que tenho por hábito acompanhar carreiras de atores nas quais sucessos e fracassos tornam-se fatos marcantes.
É interessante o fato de que um ator pode participar até mesmo de um filme medíocre, mas, ainda assim, deixar nele gravado pelo menos um lampejo de sua grande arte. Não me esqueço, por exemplo, de Boris Karloff em uma história sobre vampiros na qual ele sai de casa para combatê-los e avisa aos filhos que, caso volte depois da meia-noite, não o deixem entrar. O roteiro não é bom, os clichês são exagerados, mas fica o momento em que o pai, passada a meia-noite, aparece defronte a casa onde estão os filhos. Neste único instante Karloof apresenta-se magnífico: o olhar do homem que se transformou em vampiro e vai matar toda a sua família ilumina o seu rosto, tornando a cena inesquecível.
Nesta semana faleceu o ator Ernest Borgnine de quem ficou a participação no filme “Marty” – o papel rendeu a ele o Oscar de melhor ator em 1955. Mas, para mim Borgnine será sempre o fantástico motorista do filme “Fuga em Nova York” no qual circula com seu táxi, aparecendo nas horas certas, numa cidade devastada. E hoje se noticia que o ator Peter O’ Toole anunciou, aos 79 anos de idade, a sua aposentadoria. O’Toole é desses atores inesquecíveis. Viveu no cinema papéis realmente grandiosos a começar como Lawrence da Arábia, no filme do mesmo nome. O último filme em que o vi em ação foi “Vênus” no qual sua interpretação valeu a ele sua oitava indicação para o Oscar. Em “Vênus” O’Toole é Maurice, um velho ator que se apaixona por uma jovem. A perfeição e fineza de O’Toole no papel do velho ator pertencem aos grandes momentos do cinema.
Os atores de cinema são personagens que fazem parte do nosso cotidiano, repartindo conosco a ilusão das vidas gravadas no celuloide e em aparelhos digitais. Tornam-se nossos conhecidos, pessoas familiares que entram em nossas casas através das imagens na televisão. Por isso os admiramos e sentimos a perda deles seja pela aposentadoria ou pela morte.