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Morre Maradona
Há pouco tempo, em um almoço, falavam sobre Pelé. Gente mais nova que conhecera Pelé através de vídeos sobre seus gols. A certa altura entrei na conversa e disse que vira Pelé jogar. Uma moça perguntou: ao vivo, no campo?
Sim, eu vira Pelé jogar. No Pacaembu, em três inesquecíveis ocasiões. Então as pessoas me olharam com espanto. Era como se seu tivesse o privilégio de um encontro com Deus. Aliás, em termos de futebol, foi isso mesmo.
Diego Armando Maradona morreu hoje. Confesso que já cheguei a odiar o maldito Maradona. Ele era o inferno em campo naquele tempo em que a rivalidade com a Argentina era bem maior que nos dias de hoje. Houve o jogo do Brasil contra a Argentina, na Copa do Mundo de 1990. O Brasil jogou melhor no primeiro tempo que terminou empatado em zero a zero. Maradona não estava bem fisicamente, permanecendo meio parado na região mediana do campo. Mas, bastou a ele um único instante de genialidade. Recebeu abola, livrou-se de vários defensores brasileiros e colocou Caniggia de frente para o gol. Gol da Argentina que venceu por um a zero. Jogada genial de um gênio do futebol.
O silêncio que em seguida se abateu sobre São Paulo - e o Brasil - foi impressionante. Talvez maior tristeza só mesmo com a derrota da Copa de 50 à qual não assisti. Há um programa de TV no qual o entrevistador pergunta sobre qual a primeira impressão de sua vida que o entrevistado guardou na memória. Pois, se me perguntassem, responderia que era a da sala de minha casa no dia da derrota para o Uruguai. Eu tinha três anos e me lembro das pessoas em torno do rádio e dos lamentos no momento do segundo gol do Uruguai. Vi minha mãe, que nunca gostou de futebol, dizer que o Brasil ainda ia virar. Não virou e até hoje fala-se sobre o trauma nacional provocado pela derrota de 50.
Maradona exterminou-nos com aquela jogada que resultou no gol da Argentina em 90. Mas, ele foi muito mais que isso. Com olvidar aquela absoluta atuação contra Inglaterra em que ele fez o fabuloso gol “Mano de Deus”? E dos seus tempos áureos no Napoli?
Maradona foi um ser de exceção. Mais que artista foi um feiticeiro. Maravilhoso com a bola nos pés. Infernal. Elegeram-no Deus ao que ele dizia ser apenas Diego. Afirmava ter linha direta com o “Barba” apelido que atribuía a Deus.
O mundo se comove diante do esquife de Maradona. A escassa galeria de ídolos a quem veneramos perde um grande ícone. Restam-nos suas imagens que nos acompanharão para sempre.