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Confesso: amo o Brasil
Nesses dias de imensa turbulência e desencanto ouço falar sobre gente que se prepara para sair do país. Um conhecido gritou: chega! O cara está fulo da vida porque seu negócio emperra, a tributação é exagerada, o dólar dispara e ninguém sabe como será o amanhã. A dívida dele é em dólares e já teme não pagar os fornecedores no exterior. Além do que a receita diminui dada a retração da economia. Pois esse conhecido tem as suas reservas, pode-se dizer que está bem de vida, daí que está de malas prontas para viver em Miami com a família.
Há quem sonhe em cair fora, mas simplesmente não tem como. Vejo gente trabalhando sem vontade, sem estímulo para fazer as coisas com empenho porque o dinheiro do começo do mês nem dá para tapar o buraco deixado no mês anterior. Além do que os juros bancários estão altos demais, desproporcionais aos vencimentos. Dívidas atrasadas em bancos implementam-se com juros sobre juros e daqui a pouco a dívida se torna estratosférica.
Nos jornais leem-se diariamente tentativas de explicar a revolta do povo que recentemente saiu às ruas para protestar contra o governo. Falam e falam, mas todo mundo sabe que o problema está nos bolsos cada vez mais vazios. Descontos são infalíveis nos holerites, mas o governo que arrecada nem de longe cumpre a parte dele que é a de devolver bons serviços e segurança à população.
Cada brasileiro leva na alma, hoje em dia, o peso de viver num pais onde tudo parece ter sido contaminado pela corrupção. É bem o caso do que se diz nas ruas: esses caras roubam bilhões e querem que nós paguemos a conta. De fato é sobre o povo que recaem as dificuldades dos ajustes econômicos, da reforma tributária etc. Vive-se sob o império da propina, palavra que passa a fazer parte do cotidiano de forma arrasadora. É de se ver a naturalidade como bandidos que optam pela tal delação premiada relatam manobras envolvendo milhões de reais. Falam como se desviar dinheiro fosse a coisa mais natural do mundo. E a turma na rua comendo o pão que o diabo amassou, dando duro em troca de uns míseros reais.
Pelo que a gente se pergunta se a humanidade chegará algum dia a descobrir um sistema político realmente eficaz ou que pelo menos se aproxime disso. Socialismo, liberalismo, comunismo, democracia, presidencialismo, parlamentarismo, ditaduras etc não passam de sistemas que, na prática, não funcionam direito. Além do que, convenhamos, a tal igualde social é meta que nunca será atingida pelo menos nesse mundo.
Pois é. A afirmação de que o homem é um animal político não tem logrado maior sorte por aqui dada a conhecida precariedade da classe política em atividade. No momento o Legislativo encosta na parede o Executivo cujas forças se exaurem dia-a-dia. Ninguém sabe no que isso vai dar. No exterior olha-se o Brasil como país das negociatas. A Petrobrás afunda-se a olhos vistos encampada que foi pela corrupção. Outro dia perguntaram a uma jornalista que pedido faria caso pudesse. Ela respondeu: que devolvam a Petrobrás ao Brasil.
Daí que me vi perguntando se, caso pudesse, sairia do Brasil. Rapaz, não posso. Eu não conseguiria viver noutro lugar do mundo, morreria de saudades da minha querida terra, onde nasci e quero morrer. Já passei uns tempinhos no exterior, tudo muito bonito, direitinho, mas não dá. O fato é que pertenço a essa confusão. Adoro esse Oiapoque ao Chuí, essa nação continental, esse povo mestiço. Os batuques me empolgam, o frevo me emociona, o carnaval nem se diz. O clima pavorosamente tropical é um bálsamo quando penso naqueles montanhas de neve nas ruas e verões curtos do hemisfério norte. Que dizer da natureza deslumbrante, da vida animal, dos rios, das florestas e - por que não - das nossas cidades?
Vivendo no exterior eu não passaria de um exilado de minha parte. Lembro-me sempre do sofrimento do Juscelino, apartado de sua terra, desesperado. De outros exilados também.
Então me cabe confessar que de fato amo o Brasil. Daqui não saio, daqui ninguém me tira.