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João de Deus
Quem vai a Abadiânia vive experiência incomum. O lugar é frequentado por muita gente que para ali se dirige por conta dos milagres de João de Deus. Não são só brasileiros: na Casa de Dom Inácio - lugar onde João de Deus atende aos que o procuram - ouvem-se várias línguas. São visitantes oriundos de vários países em busca de resolução para seus males, muitas vezes doenças graves e até incuráveis.
João de Deus atende a essas multidões que se organizam em intermináveis filas. Ninguém fica sem ser atendido, pertença à primeira vez em visita ao centro ou se já tenha estado ali mais vezes.
A rotina do centro é a mesma em todos os dias. As pessoas, vestidas de branco, aguardam a chegada do médium, seguindo um ritual de orações cadenciadas por membros do grupo de João que ali trabalham. Ao chegar João ocupa-se de cirurgias, algumas delas com intervenções nas quais os presentes veem correr sangue. João não deixa de lembrar aos presentes sua condição de simples veículo para a ação de espíritos. Repete que não cura ninguém, quem cura é Deus. Avisa que ninguém deverá desistir dos tratamentos recomendados pelos médicos. Depois disso, segue para sua cadeira na qual se senta e passa a atender as pessoas das filas.
Estive em Abadiânia por conta do câncer de minha filha. O progresso da doença e a ineficácia do tratamento realizado segundo a medicina tradicional levaram-me a buscar outras soluções. Confesso ter ficado profundamente impressionado com o que presenciei na casa de Dom Inácio. Reúnem-se ali, a cada dia, cerca de mil pessoas, movidas pela fé. Não há como negar a existência de um clima salutar do qual pode se ressaltar o lado bom dos seres humanos. Corre em Abadiânia uma energia positiva que chega a ser palpável. Não há como ficar de fora dessa atmosfera de verdadeiro transe do qual passa-se a fazer parte quase inconscientemente.
Em Abadiânia ouvem-se relatos de verdadeiros milagres conseguidos através da participação mediúnica de João de Deus. Ouvi de um russo, traduzido por intérprete, a história de um câncer que, segundo os médicos, o mataria em menos de três meses. Sua cura, considerada impossível, teria se dado após a visita ao centro. Esse milagre, considerado impossível, teria assombrado aos médicos que tratavam o russo. Impossível, segundo eles, que da noite para o dia nos exames laboratoriais se obtivessem resultados normais, sem vestígios da grave doença que o levaria à morte.
Sempre avesso a fatos dessa natureza vi-me em cheque diante de tantos depoimentos. O fato é que se pode enganar a uns tantos, durante algum tempo. Mas, é digno de nota o fato de João manter trajetória de mais de 40 anos de atividades, fazendo a mesma coisa e contando com a confiança de milhares de pessoas.
Entretanto, repentinamente esse mundo de fé e tantas curas estremece. De repente, vozes se erguem contra João de Deus. Mulheres vêm a público para acusá-lo de assédio sexual. Trata-se de narrativas constrangedoras, nas quais o médium não teria nenhum constrangimento em se aproveitar de momentos de fraqueza dos que os procuram para satisfazer-se sexualmente. Da noite para o dia os depoimentos se avolumam. O caso ganha projeção na mídia. Autoridades se organizam para verdadeira maratona de coleta de novos depoimentos.
Abadiânia se cala. Vivendo à sombra do médium e mantendo negócios em torno das romarias de visitantes, empresários locais certamente temem o fim de suas atividades. Sem João de Deus Abadiânia deixará de ser o polo que atrai aqueles que buscam solução e cura para seus males.
Por meio de seu advogado João de Deus rechaça veementemente as acusações que a ele fazem. Além do que se coloca à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.
Os próximos dias certamente nos trarão novidades sobre o assunto.