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Mulheres nuas
De que os olhos masculinos são atraídos pelas belas formas do corpo feminino não existem dúvidas. Cabeça de homem é cabeça de homem - sentenciava certa vez um amigo após a décima rodada de cerveja em mesa de bar. Aliás, naquela noite os convivas concluíram sobre a impossibilidade de homem entender completamente a cabeça de mulher e vice-versa.
No passado ver fotografia de mulheres nuas era muito, muitíssimo difícil. As revistas “O Cruzeiro” e “Manchete” traziam na capa mulheres de maiô que faziam a delícia dos interessados. Minha tia achava aquilo ultrajante, sempre se perguntando o que queriam aquelas beldades ao mostrar “quase” tudo. As “certinhas do Lalau” faziam furor. Mas, o mundo era outro.
Hoje em dia tudo o que se queira ver sobre sexo está na internet. Mulheres e homens nus, sexo explícito, enfim, tudo. Há listas dos melhores sites sobre sexo e, no caso de mulheres, separação de acordo com o tipo: jovens, maduras, seios grandes, bundas, famosas etc. De modo que a rapaziada tem ao seu alcance o tipo de mulher que deseja ver sem roupa, para isso bastando clicar no mouse.
Aliás, é exatamente isso o que dizem os executivos da revista “Playboy” norte-americana para justificar a não inclusão de fotos de mulheres nuas em suas páginas a partir de agora. Então a “Playboy”, ícone que contribuiu para tantas mudanças de comportamento no século passado, mudará sua linha editorial. Nada de belas garotas nuas dado que elas podem ser vistas - e gratuitamente - nos sites da internet. As tais coelhinhas do Hugh Hefner desaparecerão, vencidas pela modernidade tecnológica.
Verdade que sobre as mulheres nuas mostradas em revistas sempre pesou a acusação de serem irreais. As fotografias são retocadas e as mulheres surgem perfeitas, admiravelmente perfeitas. Manchas, gordurinhas e outras características encontradas nos seres normais simplesmente desaparecem nas beldades das páginas de revistas. Há quem se incomode com isso, lembrando os machos de plantão de que mulheres de verdade são aquelas com as quais eles s e relacionam.
A decisão dos executivos da “Playboy” certamente foi tomada visando a sobrevivência e a adaptação da revista aos novos tempos. Mas, não deixa de causar certo desconforto aos habituados à existência da revista. Ao deixar os nus no passado a revista nos obriga a refletir sobre a passagem do tempo, a mudança de costumes e o mundo novo em que vivemos. “Playboy” sem mulheres nuas seria algo impensável até há pouco tempo. A naturalidade com que se recebe a notícia, a pacífica aceitação do envelhecimento da política editorial da revista, a imposição dos argumentos que de fato justificam a medida, tudo isso nos distancia de um mundo no qual já vivemos e que escapa de nós, por vezes suavemente.
Então, se você passar por uma banca e der com a capa de uma revista sem o apelo de uma bela coelhinha nua, não se espante: trata-se da nova “Playboy”, adaptada a um futuro que não se sabe bem se queríamos que fosse assim.
A moça da capa
O fechamento das capas de revistas envolvem aspectos variados, não sendo incomum que, quase na última hora, um novo acontecimento obrigue o pessoal que trabalha no setor a mudar tudo. É nesse ponto que começa a correria, tema bastante explorado em séries televisivas cujas tramas envolvem o jornalismo.
Há uns tantos anos publiquei um livro cuja capa requereu a participação de profissionais bastante criativos. Eram duas pessoas interessantes que marcaram comigo horário incomum de trabalho: onze da noite em um bar.
Cervejas a parte, a conversa girou em torno do conteúdo do livro. Na medida em que falávamos, os dois faziam desenhos que me apresentavam, perguntando se era isso ou aquilo etc. Ao lado da mesa uma cesta de lixo que ia sendo cheia de papel até que, lá pelas quatro da madrugada, chegou-se a uma forma final daquela que seria a capa.
Jamais me esqueci desses dois criadores, pessoas de outra latitude, que operavam em vácuos diferentes daqueles da minha vidinha ordenada de então. Soube, depois, que a eles competia a realização das capas de uma revista semanal de grande circulação no país.
Falo sobre capas porque ontem estive, casual e rapidamente, num lugar onde, a certa altura, um conhecido cochichou no meu ouvido, avisando que acabara de entrar no recinto a Capa do mês da Playboy. Distraído como estava, quando ele me disse isso imaginei uma capa enorme, de papel, chegando, coisa obviamente, absurda. Não demorou nem um segundo para que eu entrevisse, com o canto dos olhos, a moça esbelta que neste mês aparece na capa da revista masculina.
A essa altura não adiante negar que é impossível não dar uma olhadinha na figura só para conferir. Vem à cabeça tudo o que se diz sobre a irrealidade das fotos de revistas de mulheres que aparecem nuas, tratadas que são as fotos através de programas sofisticados que apagam manchas da pele, uniformizam rugas, acertam curvas e assim por diante. Então, estava ali, em carne e osso, a moça como se tivesse saído das bancas para dar uma volta no mundo real, obviamente vestida, fato deplorado pelos machos de plantão. Aliás, refiro-me a eles, aos machos de plantão, porque os presentes foram tomados por indisfarçável frenesi, descambando para mal disfarçados cochichos, certamente todos eles de teor avaliativo.
Dirão que homem é isso mesmo, não adianta disfarçar, o sujeito pode ter a mulher mais bela do mundo que na hora H não resiste a uma olhadela, homem é bicho que não presta… Pois, que digam. Agora que me perdoem os rabugentos e rabugentas, mas quem é que resiste a um simples olhar de certificação, de obtenção de dados para arquivo, de testemunho de um momento de talvez esplendor na vida de alguém, ainda que o momento seja de nudez, aliás o que tem isso?
O único comentário que cheguei a ouvir foi o de uma senhora. Ela disse a outra senhora que a acompanhava que a moça era representante de um tipo de beleza. Então me lembrei de minha mãe que tinha classificação própria para beleza. Na classificação de minha mãe, alguém pertencente à categoria “um tipo de beleza” não era dessas coisas não, ficava no mais ou menos, no muito barulho para alguém não tão especial.
O que achei? Ora, eu me diverti com o frenesi das pessoas e até com o modo simples e simpático com que a “Capa da Playboy” respondeu ao cerco de olhares que a tornaram alvo exclusivo de atenção.
- Mas, da moça, o que você achou, ao vivo e a cores ela corresponde ao esperado?
- Ah, isso não vou dizer não, não respondo não, pára que não sou besta.