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Projetos de vida
Sonhei com pessoas que já morreram. Estavam elas em atividade, correndo atrás de seus projetos de vida. Nem de longe pareciam desconfiar - ou se incomodar - como fato de que todo o seu empenho, paixões e vontade de superar obstáculos teriam fim com a morte. Agora aquelas pessoas tão cheias de vida a quem revi no sonho sobrevivem apenas nas memórias, isso quando nos lembramos delas.
No sonho refiz uma viagem que fiz com um tio aos arredores de São Paulo. Meu tio era um ótimo sujeito e dele dizia-se que não tinha lá muita sorte - havia quem o classificasse como azarado mesmo. Homem de posses limitadas preocupava-se ele com a família daí vez ou outra tentar algum tipo de investimento. Foi assim que, por exemplo, adquiriu títulos de um clube que seria construído no Guarujá. Pagou as mensalidades do clube até quando morreu e não sei dizer se alguém da família alguma vez visitou o lugar.
No dia da viagem íamos eu e meu tio na Via Dutra para dar uma olhada num investimento que ele realizara. Tratava-se da Vasconcelândia, projeto de construção de um parque nos moldes da Disney idealizado pelo humorista José de Vasconcelos. Naquela época Vasconcelos gozava de grande popularidade, extraordinário humorista que era. Ele se apresentava em shows com teatros lotados, gravava discos de suas apresentações e suas piadas estavam na boca do povo.
No sonho revi a nossa chegada à Vasconcelândia. Tratava-se de um projeto de criar uma cidade infantil numa área de 1 milhão de metros quadrados em Guarulhos. Vasconcelos era um visionário e investiu no lugar tudo o que conseguiu ganhar durante a sua carreira. No fim logrou construir uma administração, um restaurante e um parque infantil. O projeto naufragou por falta de investidores que se interessassem.
Mas, no dia em que estivemos lá a situação parecia animadora. Encontramos máquinas fazendo terraplanagem com muita remoção de terra. Meu tio animou-se, as coisas andavam e em data não prevista quem sabe ali se teria uma cidade infantil.
Curioso como as imagens da Vasconcelândia me voltaram no sonho. Meu tio animado ao meu lado com aquele ímpeto de realizador que sempre o caracterizou. Passo a passo refiz com ele a visita ao futuro parque até que acordei, pensando na brevidade da vida e na duração dos sonhos.
Sonhamos dormindo e mesmo acordados. Criamos nas nossas cabeças projetos que nos parecem eternos. Vivemos cada dia como se a vida fosse infinita. Às vezes acontece alguma coisa que nos leva a recolocar os pés no chão. Foi esse o caso desse sonho. Meu tio morreu há anos após passar mal dentro do metrô. Os últimos anos de vida de José de Vasconcelos foram passados sob a tutela do mal de Alzheimer. A Vasconcelândia nunca chegou a existir e hoje é uma área fechada pertencente a uma empresa. Sobrei eu aqui com meus sonhos e memórias, sabe-se lá até quando.