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Ressaca

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De repente o tempo vira e o calor - absurdo para o fim de abril - desaparece. Magicamente, o céu sempre azul esconde-se atrás de grossas nuvens, a chuva cai, pingos grossos que viajam obliquamente, impulsionados pelo vento muito forte.  No noticiário sobre o clima ouve-se que haverá frio, tempestade e ventos acima de 80 km. Da orla da praia para aos polos, assim, de repente. Fica-se nisso.

Mas, impressiona mesmo o mar. Ele ruge. Levanta-se. Sai do marasmo das ondas fracas que beijam a praia para erguer-se contra o mundo dos homens. Grita, avisando os moradores da orla marítima de que vivem em lugar que não lhes pertence. Ele, o mar, é o dono de tudo, proprietário das terras que, assim promete, um dia vai reocupar. Os prédios altos serão tragados, afinal as escrituras garantem o apocalipse. Será no apocalipse. O apocalipse será a vingança do mar. Enquanto não acontece, o mar se manifesta, violento. São as ressacas.

Na ressaca de ontem o mar cobriu toda a extensão da praia, derrubou muretas que em vão tentam isolá-lo e invadiu a avenida. Turno de força. Pura energia incontida, gerada nas entranhas da terra. Exército de águas em movimento que nada pode deter. Aviso de preso atrás das grades que sabe poder rompê-las como e quando quiser.

As imagens são belas, mas apavorantes. Lá estão as ondas de quatro metros de altura quebrando-se muito além do lugar previsto, ameaçando chegar aos prédios, por vezes invadindo garagens subterrâneas. Como o cacto de Manuel o mar é áspero, intratável. Invasivo, interrompe o trânsito que já não pode fluir pela avenida alagada. O exército do mar lembra as divisões romanas, organizas para o ataque. Desta vez o mar veio com a divisão dos ventos que causaram estragos, danificaram sinais de trânsito, derrubaram árvores e ameaçaram moradias nos morros. Na madrugada os ventos uivaram nas janelas, avisando do ataque do mar.

O mar é assim. Imprevisível, indomável e belo. Faz o que quer. Há pouco destruiu parte da ciclovia às pressas construídas no Rio para as Olimpíadas. Para destruí-la bastou um só movimento do gigante que se ergueu a grande altura para colocá-la abaixo.

O mar não respeita nada, nem a vida dos incautos que ousam desafiá-lo. Arrasta barcos, navios e, vez ou outra, arregimenta forças, invadindo tudo nos bem organizados tsunamis. Então destrói, em segundos, o que os homens levaram, por vezes, uma vida para construir.

Entretanto, impossível não amar o mar.