Niemeyer e Juscelino at Blog Ayrton Marcondes

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Niemeyer

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Oscar Niemeyer será enterrado hoje no Cemitério de São João Batista. O grande arquiteto desaparece aos 104 anos de idade e sua morte é noticiada em todo mundo. Destacam-se as obras de Niemeyer e sua arte em romper com o traçado reto, adotando a curva como de referência de suas construções.

Niemeyer viveu bastante. Ainda assim dizia que a vida não passa de um minuto de tão rápida que é. Convicto comunista acreditava no comunismo como solução para a desigualdade entre os homens. Os que o conheceram de perto o descrevem como homem simples. Gênio incontestável deixa atrás de si uma vida produtiva, tendo trabalhado até bem perto de sua morte.

De Niemeyer guardo mais a imagem do arquiteto em ascensão nos anos 50 quando se ligou a Juscelino. Do encontro entre esses dois homens nasceram a Pampulha, em Belo Horizonte, e Brasília, atual capital do país. Não sei se aos jovens de hoje é clara a transformação que o país sofreu sob a batuta de Juscelino quando presidente da República. A louca ideia de transferir a capital federal do Rio de Janeiro para uma área inculta no Planalto Central era vista como aventura de resultados improváveis. Meu pai tinha parentes que moravam no Rio e nas vezes em que nos visitaram deles ouvimos cobras e lagartos sobre o plano de Juscelino executado por Niemeyer e Lucio Costa. Mas, as obras avançaram ao ritmo da energia que Juscelino transferia aos seus comandados, sempre com Israel Pinheiro a acompanhar a espantosa obra.  E Juscelino conseguiu inaugurar Brasília e transferir para lá a sede do governo ao final de seu mandato na presidência.

Com Brasília inaugurada ouvíamos dos parentes que o Rio se esvaziara. A cidade perdia a antiga efervescência, cessara o vai-e-vem dos políticos e das gentes nos ministérios. Uma prima de meu pai, funcionária de Ministério, não se conformava com a transferência para Brasília, embora os favorecimentos propostos pelo governo. Carioca da gema acabou se demitindo: não trocaria a vida na praia por um deserto de terra no Planalto Central.

Ainda hoje se discute a renúncia de Jânio Quadros, não só as causas dela, mas o que teria acontecido ao país caso ele não tivesse renunciado. Teríamos o advento da Ditadura Militar em 1964? O que alguns comentaristas afirmam é que Jânio sucumbiu ao isolamento em Brasília. De repente o grande manipulador de massas perdia seu público, tornando-se refém no Palácio do Alvorada. Por essa razão teria renunciado. Pelo isolamento.

Niemeyer relata que durante as obras da capital bebia caipirinhas juntamente com os peões. Havia igualdade e empenho de todo mundo. Depois, disse ele, a cidade ganhou vida:  vieram as pessoas e tudo ficou como em outros lugares.

A morte de Niemeyer faz pensar nas gerações passam. Com ele se vai o restante de uma época, pelo menos uma grande referência dela que teimava em se manter viva. Niemeyer agora se junta a tanta gente com quem conviveu, pessoas que escreveram a boa parte da história deste pais.

Siga em paz, Niemeyer. Deixa saudades.