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Livros de Stephen King
Para o escritor argentino Julio Cortázar um conto é verdadeiramente bom quando não nos esquecemos dele. Não sei dizer se o conceito se aplica a romances. Em todo caso, não há como olvidar os enredos de alguns romances de Stephen King.
Stephen King é um mestre do horror, popular em todo o mundo, grande vendedor de livros. Algumas de suas histórias serviram de enredo a filmes. Quem não se lembra de “Carrie, a Estranha”, a menina que acaba com uma festa e mata a maior parte de seus colegas de escola, fazendo uso de seus superpoderes?
O mundo de Stephen King é povoado por acontecimentos extraordinários e seres submetidos a situações nas quais o sobrenatural é a regra do jogo. King é criador que tece devagar e pacenciosamente a teia de fatos normais que conduzem a momentos de grande impacto nos quais o horror é celebrado em toda a sua magnitude. Quem leu “O Iluminado”, sabe perfeitamente como as coisas se passam sob a pena do mestre do horror. O escritor que vai com a família tomar conta de um hotel nas montanhas, durante o inverno, quer apenas reclusão para escrever. Não sabe ele que o hotel é assombrado e que ali conviverá com acontecimentos terríveis que o levarão a, talvez, encontrar-se consigo mesmo.
Nada é por acaso nos textos de King. Como um tecelão que multiplica fios aparentemente disformes em sua máquina, o escritor conduz o leitor através de labirintos para que, ao final, tudo se encaixe num tecido ilógico, mas possível que é a substância do mais puro horror.
Há quem considere as histórias de horror um gênero menor. Críticos importantes chegam a desqualificar a literatura fantástica sem que isso interfira na grande atração que o gênero desperta em leitores e cinéfilos. Entretanto, há que se diferenciar o terror de boa qualidade das produções que abusam de clichês nos quais o maior investimento se dá no sentido de provocar sustos. Infelizmente, a maioria dos filmes de horror produzidos atualmente ressente-se desse mal. Há sempre um corredor escuro e a mulher ou criança desavisada que caminha para receber e transmitir ao espectador o impacto de algo desconhecido e violento.
Não li todos os livros de Stephen King, mas um deles me impressionou bastante. Trata-se de “O Cemitério” história terrível na qual cadáveres enterrados num antigo cemitério ressuscitam. Entretanto, os que voltam da morte não se comportam exatamente como eram quando vivos e nessa direção as situações de horror se adensam, atraindo o leitor.
Em relação a “O Cemitério” pode-se dizer que a ideia não é exatamente original. Um dos mais importantes e melhores contos de horror chama-se “A pata do macaco”, de autoria de W. W. Jacobs. Trata-se de um clássico das histórias de terror na qual um casal de idosos perde um filho em acidente numa mina. As surpresas começam quando o casal recebe a visita de um estranho que dá a eles, de presente, uma pata de macaco. Pode-se dizer que Stephen King inspirou-se na história de Jacobs quando escreveu “O Cemitério”.
O mais recente romance de Stephen King, chama-se “11/22/63”, justamente a data do assassinato do então presidente norte-americano John Kennedy. Em “11/22/63”, um professor de 35 anos de idade viaja no tempo com a intenção de impedir o assassinato de Kennedy. O livro será lançado em novembro nos EUA e não há, por enquanto, previsão de data para que chegue ao Brasil.
O conto “A pata do macaco” faz parte de algumas coletâneas de histórias de terror publicadas no Brasil. Os interessados também podem ler o conto na internet, encontrando-o facilmente com o uso de ferramentas de busca. Quem tiver a oportunidade de ler “A pata do macaco” possivelmente concordará com a classificação de Julio Córtazar para contos verdadeiramente bons porque, certamente, jamais se esquecerá da história do casal que recebe de presente uma pata de macaco.
A turma do deixa-disso
A coisa mais perigosa do mundo é a rotina. Tudo o que vira rotineiro corre o risco de se tornar aceitável. É assim que coisas tremendas são incorporadas ao imaginário coletivo, quase assumindo a condição de irreais. Acontecimentos distantes, por mais violentos que sejam, encontram no cidadão resistência de percepção: é com o se o cérebro construísse uma barreira para que situações inaceitáveis não nos abalassem tanto. E, assim, vai-se vivendo.
O Brasil é o país da turma do deixa-disso. Terra de contrastes, assim disse Roger Bastide. O brasileiro é um bom sujeito, sendo que alguns são dados a deslizes de gradações diferentes. Povo alegre, empreendedor, louco por uma festa, carnavalesco, responsável, trabalhador, enfim um verdadeiro poço de contradições marcadas sempre por alguma boa-vontade. Mais: não creio que exista em todo planeta outro povo com tão grande capacidade, senão de perdoar, pelo menos de esquecer. Para isso contribui o acúmulo de notícias ruins contra as quais se estabelece um tipo de catarse perigosamente engajada em conformismo. É assim e pronto. Disso se aproveitam os brasileiros dotados de caráter voltado para a desfaçatez, os que apostam na credibilidade popular. Muitos deles fazem história e chegam a governar.
Um caso típico que se ajusta à perfeição às considerações acima é esse do vazamento de dados fiscais para a confecção de dossiê. Então o secretário da Receita Federal declara a senadores que servidores do órgão por ele chefiado acessaram as declarações de Imposto de Renda de um político adversário do governo. Entretanto, os nomes dos servidores que cometeram tal crime não serão revelados porque existe um prazo para que isso seja feito, prazo esse que justamente se esgotará após a data prevista para as eleições presidenciais.
Você lê uma coisa assim nos jornais e pula para o caderno de esportes: trata-se da referida busca de catarse. É preciso não confundir o mundo real da sua vida pessoal com o mundo imaginário em que vivem as pessoas que praticam e concordam com coisas assim. No fim não vai dar em nada mesmo porque a turma do deixa-disso já está em ação, provavelmente trocando favores para que mais esse caso seja abafado.
O fim de semana vem aí. O serviço de meteorologia afirma que o tempo ruim vai continuar de modo que você ficará em casa, protegendo-se da chuva e do frio. Nessas condições o meu conselho é para que você não leia jornais. Compre um livro de terror, uma daquelas histórias atemorizantes do Stephen King, por exemplo. Uma delas, chamada o ”O cemitério” é ótima sugestão: é terrível, embora bem menos do que se lerá no noticiário dos jornais do fim de semana.