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Os Blogs e o futuro da Literatura Brasileira
Está sendo realizada a quinta edição do Fórum das Letras de Ouro Preto. Numa das mesas reuniram-se críticos para discutir o papel a ser desempenhado pelo jornalismo cultural dado o avanço de uma atitude anti-intelectual que se esboça nos blogs. Tal atitude busca desautorizar o discurso da crítica de jornais e revistas.
Criticou-se a profusão de blogs, registrando-se verdadeira fobia deles à teoria literária. A facilidade de publicação, via internet, estaria provocando uma onda quase paranóica de autores criticamente despreparados, criando-se teorias conspiratórias contra a verdadeira crítica. Daí que em alguns anos a crítica desaparecerá e o resultado será uma avalanche de lançamentos medíocres. A boa e a má literatura se confundirão por falta de um juízo critico competente.
Essas considerações, publicadas na edição de 02/11/09 do jornal “O Estado de São Paulo” dão o que pensar. Em primeiro lugar elas pressupõem a existência no Brasil, nos dias atuais, de uma crítica atuante e militante, capaz de separar o trigo do joio, atenta aos movimentos culturais e apta a promover novos talentos. Nada mais falso. Sem demérito para poucos críticos que vez ou outra comparecem na mídia com análises mais profundas e embasadas de alguns lançamentos, não é possível reconhecer, atualmente no Brasil, um movimento crítico que possa ser caracterizado como tal. Além do que parte da crítica militante trancafiou-se nos redutos universitários e ocupa-se, principalmente, das obras de autores consagrados. Do que se depreende não ser possível a existência de um movimento consciente de blogueiros que busque desautorizar o discurso de uma crítica que na verdade é quase inexistente. Independe de tal crítica, portanto, pelo menos no estado atual de coisas, o bom ou mau encaminhamento da literatura no Brasil.
O segundo ponto a merecer atenção é o que diz respeito à proliferação de blogs, pelo visto perigosa e danosa à boa literatura. Não há como concordar com isso. Na verdade é salutar que muita gente se dedique aos blogs num país onde novos autores são obrigados a mendigar publicação de seus trabalhos em editoras que, como se sabe, dão preferência a obras traduzidas. Será preciso também lembrar que, quando enfim publicados, os novos autores raramente merecem pelo menos duas linhas de crítica nos meios de comunicação? E o que acontece com os livros da maioria dos escritores brasileiros em termos de divulgação e distribuição de seus trabalhos?
Ao contrário do que pensam os intelectuais reunidos em Ouro Preto, os blogs são uma alternativa interessante para o desenvolvimento da literatura. Eles oferecem a muita gente a oportunidade de fazer-se ouvir. Eles cobram dos verdadeiros escritores coerência e estudo para que mantenham os seus leitores.
Dirão que os blogs , na maioria das vezes, disseminam muita porcaria e favorecem o emburrecimento do público. Os jornais e as revistas também, não? Não se aplica aí o princípio de que o que é bom permanece e o ruim acaba sendo descartado? Que se pode dizer contra um movimento – o dos blogs - que alicia diariamente novos leitores ainda que nem sempre leiam “coisa boa”?
Falar-se em fobia à teoria literária pressupõe conhecimento dela. Os blogs de papo-furado não afrontam a literatura porque crescem à margem dela e seu público cativo pouco se dá a aspectos teóricos. Mas, diga-se, o que é novo não é necessariamente ruim, não derruba os castelos edificados pela intelectualidade. Daí que não existe o que temer.
Ao ler sobre as opiniões de críticos no Fórum de Ouro Preto lembrei-me daquele monge de “O Nome da Rosa” que escondia a sete chaves a segunda parte da “Poética” de Aristóteles. Não precisamos de guardiões da literatura por aqui: carecemos – e muito – de crítica atuante que se ocupe das obras de bons valores nacionais relegados ao esquecimento.