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O pecado mora ao lado
Não se trata do grande filme de 1955, dirigido por Billy Wilder e estrelado por Marylin Monroe. Na trama um marido manda a mulher e o filho para o Maine, fugindo da onda de calor nova-iorquino. Sozinho enfrenta o problema de ter como vizinha, no apartamento de cima, a sedutora Marylin. Vale a pena rever.
Refiro-me às padarias, lugares cada vez mais atrativos para consumo de todas as delícias, a começar pelo delicioso pãozinho. Aliás, alguém poderia me informar em que país se pode conseguir pãezinhos como os que nos vendem aqui?
Muita gente já sucumbiu por conta de padarias. Basta lembrar dos balcões onde o incauto se acomoda e pede uma cervejinha, quando não uma boa pinga. Seguem-se salgados e guloseimas de toda ordem. Isso vez ou outra até que tudo bem. Mas todo dia…
Acabo de vir de um hospital onde fui visitar um amigo. Encontrei-o no leito, abatido, cansadão. Respirando com certa dificuldade começou a falar de sua doença, segundo os médicos ainda reversível se ele tomar cuidado, enfim parar de fumar, beber e comer o que não deve.
Esperava dele ouvir a lenga-lenga, sempre esquecida depois, de que desta vez, recuperando-se, as coisas seriam diferentes. Nada de excessos, cuidados com a saúde, cigarros nem pensar alimentação sadia e, principalmente, voltar aos exercícios físicos. Nessas horas pesa ao interessado não só a possibilidade da morte como os compromissos inadiáveis a saldar neste mundo de Deus.
Pois, não foi o que ouvi. Ao contrário. Confessou-me que seu maior problema era a existência de uma maravilhosa padaria bem na esquina da casa dele. Como a mulher guarda o carro na única vaga de que dispõem a ele no prédio, vê-se obrigado a alugar garagem na mesma rua. Acontece que entre a garagem e o prédio onde mora fica a tal padaria. E ele não consegue fingir que ela não existe. Entra com a desculpa de que vai comprar só uns pãezinhos, acaba sempre no balcão e aí tudo acontece, dia após dia. E deu no que deu.
Longe de mim falar mal de padarias. Amo padarias. Perto da minha casa tem uma muito boa. O pão deles é fantástico, uma delícia. A sessão de frios, meu Deus. No fim da tarde os fregueses habituais acotovelam-se nos balcões. Futebol e política são os temas de sempre, em meio a goles de boas cervejas e cachaças.
Quando me despedi de meu amigo perguntei como seriam as coisas depois que ele tivesse alta. Disse-me que se reunia, diariamente, no mesmo horário, com bons amigos na padaria e seria difícil separar-se deles. Aventou sobre a possibilidade de mudar-se para outra rua, sem padaria na esquina.
Como se vê o pecado pode mesmo morar ao lado.