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Colecionadores
Ouvi no rádio do carro papo sobre colecionadores. Um dos entrevistados é proprietário de 6 milhões de LPs. Entretanto, não se considera um colecionador. Define-se mais como acumulador. Mas, então, o que é um colecionador? Na verdade não se chegou a consenso. Colecionador seria a pessoa que opta por linha de coisas de que gosta muito e se dá ao trabalho de preencher as lacunas de sua coleção. O colecionador garimpa no mercado partes faltantes de sua coleção. Tudo em ordem e progresso. Não são colecionadores aqueles que trazem para casa um pouco de tudo e mantêm seus pertences de forma desorganizada.
Fui sempre um mau colecionador se é que cheguei, em algum momento, a fazer jus ao título. Quando menino o que havia para se colecionar eram figurinhas. Os famosos álbuns faziam a alegria da criançada. Embora existissem álbuns de vários temas, o preferido era o de futebol. Em cada página onze espaços a serem preenchidos com as figurinhas que se compravam em pacotinhos. O diabo eram as repetidas que serviam ao mercado da troca. Obviamente, as figurinhas se dividiam em fáceis e difíceis. Sempre existia uma delas dita “a mais difícil do álbum”. Grande parte dos colecionadores não chegava a completar os álbuns, empacados que ficavam nas difíceis. Mas, quem conseguia completar fazia jus a um prêmio oferecido pelas editoras de figurinhas.
Que me lembre, nunca consegui completar um álbum de vez que minhas verbas para comprar figurinhas eram mais que curtas. De modo que passava horas junto com outros moleques, trocando. Poucas coisas na vida superam a satisfação de um menino ao conseguir uma figurinha difícil que faltava no seu álbum.
Colecionei, também gibis, que me eram trazidos por um irmão mais velho. Chaguei a ter uma coleção grande do Pato Donald, número a número. Já homem e trabalhando descobri no Parque D. Pedro uma banca na qual encontrei - e comprei - coleções inteiras de gibis do Mandrake, do Fantasma e do Flash Gordon. Infelizmente numa dessas viradas da vida acabei me apartando desses gibis coisa de que me arrependo muito.
Tenho um parente grande colecionador de gibis que os traz trancados a sete chaves. Separou-se da mulher, de todo mundo, mas não dos gibis. Hoje idoso mantém a sua coleção com a mesma vibração dos tempos de rapaz. Línguas maldosas falam dele como alguém que não cresceu. Bobagem. Só quem não conhece os prazeres experimentados ao se conseguir e manter uma coleção podem rir de algo tão sensível.
Deixei de colecionar coisas quando as exigências da vida diária soterraram meus impulsos de menino. Infelizmente. Acredito piamente que toda pessoa abrigue me seu peito um colecionador, tantas vezes não identificado. Colecionar é algo saudável que permite alegria e descontração nessa vida tão atribulada.