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Tempo para leitura e os pockets
Sempre tenho pela frente uma lista de livros para ler, alguns novos, outros lidos há muito. Vez ou outra me lembra de um texto e me meto a achá-lo para reler. Dias atrás aconteceu em relação a um conto de Julio Cortázar que eu supunha fazer parte de um livro e estava em outro. Mas, há livros que eu gostaria muito de reler e não encontro tempo para isso. Um deles é o D. Quixote, de Cervantes, outro a Divina Comédia, de Dante. No caso desse último ocorre que eu o separei e comecei a reler, mas parei por conta de falta de tempo. Depois a obra começa pelo inferno e digamos que naqueles dias eu não estava a fim de mergulhar nos segredos das profundezas. O inferno de Dante é mesmo dantesco… Aliás, em relação ao outro mundo, vale dizer que se as coisas forem como dizem por aí o melhor é prolongar a vida aqui no planeta, ao máximo. Recentemente, o filme “Nosso lar”, baseado na obra homônima de Chico Xavier, mostrou cenas do lugar para onde vão os espíritos após a morte. Pior impossível. E, a ser como descreveu o grande médium, os espíritos permanecem ali por longo tempo enquanto sanam alguns de seus problemas até que adquiram o direito de seguir para uma instância superior. Mas, mesmo nessa as coisas não são fáceis: há que se adaptar à nova morada e tornar-se útil à comunidade que nela vive. Do que se deduz que a provação que já é esta vida continua depois da morte. Convenhamos: pouco convidativo e, sinceramente, não dá nenhuma vontade de morrer.
Voltando aos livros, sempre tive a paixão pelos grandes painéis com a riqueza de detalhes que por vezes espelham épocas. Obviamente esse modo de ver se ressente da possibilidade de inúmeras falhas, a começar por erros de visualização e interpretação. Em todo caso o melhor jeito de abarcar um grande número de informações sobre um dado período, ainda que curto, ainda é a leitura de matérias sintéticas sobre assuntos que estão fora de nossa área de interesse. Esses assuntos são parte integrante de um contexto e simplesmente não podem ser abandonados sob o risco de nos ocuparmos apenas do principal, deixando de lado detalhes que certamente ajudam a entendê-lo e explicá-lo. Talvez desse fato tenha eu desde logo sentido grande atração por algumas obras que tratam das generalidades sobre alguns temas que não elejo como de meu interesse prioritário.
O que quero dizer é que, talvez para escândalo de alguns puristas, não é de modo algum desmerecedora a leitura de obras generalistas que se ocupem apenas da parte principal de um assunto. Se pela necessidade de minha formação profissional fui levado a ler todos os tomos da obra de Freud isso não significa que um engenheiro voltado para as matemáticas tenha que fazer o mesmo. Daí que para essa pessoa a leitura de um breviário sobre Freud e sua obra talvez seja suficiente paara matar sua curiosidade pessoal e enriquecer seus conhecimentos, quem sabe até atraindo-o para um mergulho mais profundo na obra do grande psicanalista.
Escrevo sobre isso porque me parece que num mundo de muita pressa e pouquíssimo tempo são muito benvindas as edições de bolso de alguns livros, entre os quais se destacam biografias e ensaios curtos sobre a vida e a obra de personagens que foram e são importantes no terreno das ideias. Digo isso porque dias atrás, a título de dar uma olhada em assunto que foge à minha área de atuação adquiri uma biografia de John Maynard Keynes em livro de bolso. Sinceramente, não tinha a intenção de ler o livro, mas apenas a de correr os olhos em algumas páginas. Eis que, entretanto, comecei a ler as primeiras páginas e fui levado pelo texto, muito interessante, ao final. De fato, para quem não conhece ou pouco sabe sobre Keynes a biografia escrita por Bernard Gazier é um ótimo investimento. Não servirá para economistas ou pessoas ligadas à área da Economia. Para esses Keynes é mais que conhecido, sendo suas teorias econômicas assunto para discussões e tomada de decisões. Entretanto, para pessoas de outras áreas, os que conhecem no máximo uma notícia sobre Keynes, o “pocket” torna-se muito interessante e, talvez, em alguns casos desperte até mesmo o interesse a ler textos de autoria do próprio Keynes.
E assim caminha a humanidade, com Rock Hudson, James Dean e toda a trupe de atores já mortos, mas muito vivos na tela do cinema. E como isso nada tem a ver com o que foi escrito antes, fica assim mesmo.