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Onda de protestos
O difícil é saber de que lado se está nessa onda de protestos que açoita o povo nas ruas de São Paulo. Se observarmos bem o noticiário veremos que o desenrolar dos acontecimentos se traduz numa troca de acusações sobre o estopim da violência. Ora se diz que em meio à massa de pessoas que protestam existem baderneiros infiltrados com a única intenção de agredir e depredar; outros acusam a polícia de atacar manifestantes e iniciar a batalha que se trava nas ruas. Pedras, bombas de efeito moral, balas de borracha, paus, fogo e outros apetrechos fazem parte do arsenal de luta do qual até agora, por pura sorte, não foram verificadas perdas de vida.
Há muitos anos fui surpreendido por uma manifestação popular nas ruas de Buenos Aires. A minha surpresa se explica porque a marcha acontecia não muito tempo depois da queda dos regimes autoritários. Gravei na retina as faces das pessoas que iam à frente da marcha, homens de paletó e gravata, mulheres bem alinhadas, braços dados, seguidos por uma multidão silenciosa. O máximo a que se deram direito foi o de distribuir folhetos nos quais se explicitava a razão de seu protesto. Nada a ver com os panelaços que mais tarde se tornariam célebres em Buenos Aires.
No atual caso que acontece em São Paulo fica difícil tomar-se um lado. Condena-se a depredação e o vandalismo que nada têm a ver com o protesto contra a elevação das tarifas dos ônibus. Por outro lado não se podem apoiar ações desmedidas de repressão que tantas vezes pecam por indiscriminadas, atingindo até mesmo transeuntes que nada têm a ver com a ação que se desenvolve ao seu redor.
A essa altura dos acontecimentos nem adianta rogar para que o bom-senso prevaleça. Os manifestantes já marcam mais uma rodada e o governo avisa que não tolerará agressões e vandalismo.
As manifestações em São Paulo ilustram bem o modo como coisas aparentemente simples podem sair de controle e transformar-se num impasse de difícil solução. Elas refletem a insatisfação represada que parece encontrar válvula de escape na elevação das tarifas de ônibus urbanos. É preciso atentar para as razões mais profundas do que ora acontece para esta não seja apenas a primeira de uma série de protestos de um povo cansado de tanta impunidade e manobras políticas e econômicas que não visam o bem-estar comum.