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Depois do transe
A queda de três prédios no Rio continua a impressionar. Dezessete corpos já foram retirados dos escombros, mas ainda há desaparecidos. Ruas centrais da cidade, próximas à Av. Rio Branco, continuam interditas, incluindo-se a Rua 13 de maio onde ficavam os prédios.
Os escombros estão sendo retirados e procura-se neles corpos de desaparecidos. Fato que chamou a atenção foi o de operários que trabalham nos escombros terem se apropriado de pertences que encontraram. O prefeito do Rio chamou de delinquentes aos operários flagrados desviando material retirado dos prédios.
Como não poderia deixar de ser, no entorno de uma grande tragédia como essa circulam várias histórias, muitas delas comoventes. Há o desespero de famílias que ainda não sabem o que aconteceu a um de seus membros que trabalhava no local no momento do acidente. Há o caso do rapaz que conta sua singular aventura de escapar da morte por ter-se atirado dentro do elevador no momento em que o prédio em que estava vinha abaixo. Há o caso do dentista cuja clínica desapareceu e com ela as fichas de clientes atendidos em mais de quarenta anos de atividade. E o caso da dona de um dos prédios que lamenta demais a tragédia envolvendo o seu imóvel.
Não é possível, ainda, diagnóstico preciso sobre as causas do desabamento. Técnicos especulam sobre obras realizadas num dos prédios, fadiga de material que levaria à falha estrutural e problemas na fundação de um dos prédios. Entretanto, estima-se que só se chegará a um laudo conclusivo dentro de algum tempo.
Passados os primeiros momentos após a tragédia e estando em andamento a busca de restos mortais entra-se na fase em que a busca de razões – e de possíveis culpados – ganha corpo. Chama atenção a necessidade de uma explicação que recoloque as coisas em seus eixos e, se possível, sirva para acalmar os ânimos. No fundo é em torno dessa explicação que gira o interesse do público. O fato é que precisamos de esclarecimentos para que nossas vidas continuem dentro da rotina e nos sintamos seguros.
As tragédias ocorridas nos últimos dias, pelo tamanho delas e gravidade, despertam insegurança nas pessoas. Ouvi de gente que conheço declarações sobre não embarcar em navios e perguntas sobre o estado dos prédios em que moram. O fato é que o naufrágio do navio de cruzeiros no mar Mediterrâneo e a queda de prédios no Rio pertencem à categoria de eventos negativos que influem na confiança que temos no mundo em que vivemos.
Mas, vai passar, tudo se transforma em passado muito depressa. Muito antes do que possamos imaginar no local dos prédios desabados outros serão erguidos e mesmo a memória do naufrágio do navio de cruzeiros pouco será lembrada. Isso de esquecer, de deixar-se levar pelo novo que acontece serve-nos como meio de fuga da realidade difícil de aceitar, por vezes intolerável. Mas, é assim que somos, assim as coisas se apresentam a nós, intensas, agressivas, desmedidas, tanto que precisam a custo ser olvidadas.