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Spoilers

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Os chamados “spoilers” não passam de uns chatos. São mesmo os tais estraga-prazeres. Não sei se ainda acontece, mas era comum encontrá-los nas filas de cinema que exibiam filmes de arte. Falando alto para que todos ouvissem e reparassem neles os “spoilers” difundiam sua pretensa intelectualidade. O problema maior relacionava-se com aqueles caras que já tinham assistido ao filme e voltavam para averiguar algum detalhe numa nova sessão. Então discorriam sobre a cena e a interpretavam. Obviamente, sendo “spoilers”, não deixavam de lado a oportunidade de estragar a diversão dos outros, contando o fim do filme. Certa vez presenciei um sujeito partir para cima de um “spoiler” que tinha narrado, em detalhes, o fim de uma trama de suspense.

Mas, reconheça-se, existe bons “spoilers”. Conheci um deles, frequentador assíduo de cinemas, que tinha por hábito narrar todo o enredo dos filmes. Educado, o rapaz sempre perguntava aos presentes na conversa se alguém teria assistido ao filme ou se pretenderia assisti-lo. Só quando os presentes o autorizavam começava sua narração.

Ocorre que o tal “spoiler” era um verdadeiro artista. Tanto que, na verdade, o modo como narrava acabava por descaracterizá-lo enquanto “spoiler”. Tal era sua aptidão em contar o enredo do filme, a riqueza de detalhes, que não se podia ouvi-lo sem prazer. Como isso acontecia nos intervalos de trabalho para almoço ou café as narrativas do nosso “spoiler” eram muito aguardadas. Se em uma ocasião não se dispunha a contar nada era abordado com a mesma pergunta: e aí, não viu nenhum filme?

Pois “assisti” a vários filmes através da prosa desse notável contador de histórias. Inesquecível a narrativa do filme “ A gaiola das loucas” que nos levou a risadas delirantes. Víamos os atores e cenas jocosas através das palavras de nosso hábil narrador.

Anos depois assisti no cinema à segunda versão do filme “A gaiola das loucas”. Pareceu-me inferior a primeira a qual “assisti” através da narrativa de nosso companheiro de trabalho.  Saí do cinema intrigado. Há pessoas que nascem com dons incomuns como esse de narrar histórias. Alguns contam enredos de filmes. Outros se tornam escritores. Há, também, aqueles que fazem uso de sua inegável capacidade de comunicação para engabelar os demais. Aliás, esses últimos, com alguma frequência, se tornam políticos.