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O “Padrão FIFA”

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Se há uma coisa que a Copa do Mundo que agora se realiza deixará como herança aos brasileiros é o tal “Padrão FIFA”. Da noite para o dia a expressão foi incorporada ao linguajar do povo. É “Padrão FIFA” pra cá, “Padrão FIFA” pra lá e assim vai.

O diabo é que o “Padrão FIFA” passou a servir como referência. Comparações entre obras e serviços públicos disponibilizados para a população passaram a ter como referência de qualidade as exigências da FIFA para a realização da Copa no país. Comparam-se serviços oferecidos ao povo com as tais exigências. Pergunta-se por que as fortunas empregadas para atender à FIFA não foram utilizadas para melhorias nos atendimentos da saúde, nos transportes públicos etc.

Isso sem falar na bronca gerada contra a FIFA por submeter o governo do país a tantos vexames. Era de dar pena ver o esforço de autoridades de alto escalão ao acompanhar as terríveis vistorias da FIFA em obras para a Copa. Corria-se atrás da aprovação de dignitários da FIFA. Um país submetendo-se a exigências! Isso sem falar no desconforto pela circulação de notícias no mundo todo nas quais se dizia que a Copa talvez não fosse acontecer tal a bagunça existente no país que descuidara-se na organização para o grande evento.

Pois a Copa está acontecendo e dá para se dizer que tudo corre muito bem. Os aeroportos estão dando conta, o acesso aos estádios é satisfatório e esses mesmos estádios são bonitos de dar inveja. Mais que isso, a competição está boa com surpresas pelas atuações de equipes consideradas mais fracas. Que se diga: um sucesso.

A Copa vai acabar, mas o “Padrão FIFA” vai ficar porque está na boca do povo. Ontem chamei um pedreiro para contratar um pequeno serviço na minha casa. Ele analisou o problema e me disse quanto cobraria. Então perguntei se ia ficar bom. A resposta dele:

- Vai ficar “Padrão FIFA”. Comigo é tudo no “Padrão FIFA”.

Pode?

A Copa vem aí

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Paira sobre o entusiasmo dos cronistas esportivos densa nuvem de incerteza. Para além da competição em si aguardam-se os acontecimentos que cercarão a realização da Copa do Mundo no país. Sabe-se de antemão que, infelizmente, o grande evento esportivo acontecerá num país que não se preparou devidamente. Obras inacabadas, acessos viários complicados, transporte aéreo deficiente, aeroportos aquém da demanda e outros problemas cercam a realização do maior evento do futebol mundial.

Dias atrás o governador do Rio Grande do Sul declarou alto e bom som que se soubesse do modo de agir da FIFA, jamais teria concordado com a realização do campeonato mundial no Brasil. Estamos, de fato, sob a ditadura da FIFA que figura como uma espécie de poder a parte dentro do país. São inúmeras - e caríssimas - as exigências que devem ser cumpridas dentro de prazos cada vez mais exíguos. A menos de dois meses do início dos jogos estádios estão por terminar suas obras e entornos dessas mesmas praças de esportes talvez nem mesmo cheguem a ficar prontos a tempo. O tal padrão FIFA passou a ser detestado por parte da população que se pergunta por que o mesmo não se exige dos serviços públicos de atendimento à população.

Gastos mirabolantes em obras que, depois da Copa, não terão grande utilidade. Destaca-se a construção do estádio de Brasília a custos surpreendentes e inaceitáveis. Cresce a indignação e esperam-se manifestações. Radicais e depredadores declaram que estarão em ação e a polícia prepara homens especializados em luta para combater possíveis arruaceiros.

Por outro lado a imprensa estrangeira não perde a oportunidade de bater duro na imagem do país. Trata-se da realização da Copa do Mundo naquele país do samba onde nada funciona direito. Por traz desses comentários traços da antiga e malfadada crença de superioridade sobre os habitantes das regiões tropicais. Há um indisfarçável ranço nas críticas desabridas tais como as recomendações de governos a seus cidadãos que pretendam vir ao Brasil para assistir a Copa.

Obviamente, não há nenhuma novidade no que está escrito acima. Todo mundo sabe disso, não? Mas o que devemos pensar a essas alturas, nós que amamos tanto o futebol? Creio que aí deve passar a valer o tal relaxa e goza. Agora não adianta mais não se colocar contra a realização da Copa no país porque o fato é irreversível. Resta-nos torcer para que as coisas se passem da melhor maneira possível, de preferência sem agressões e vítimas. Quem sabe, também, para que o Brasil venha a ser o campeão.

E que não se esqueça da maior vantagem: passada a Copa pelo menos teremos a satisfação de ver desaparecer do noticiário os nomes de Valcke e Blatter. Isso não é pouco, não. Pena que continuarão por aí os políticos que se empenharam e conseguiram trazer a Copa de 14 ao país.