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Espírito de natal
Conheço um cara que odeia o tal “espírito de natal”. Para ele trata-se de uma bobagem que mais serve aos bons negócios do comércio. Ele cita a chatice das ceias de natal nas quais sentam-se, lado a lado, tantos desafetos. Aquele parente que você gostaria de ver queimando no inferno estará lá, sorridente, como se nada tivesse acontecido. Mais que isso, a verdade é que o homem não é um ser bom de modo que as festividades de fim do ano não passam de enganação. Vá lá que crianças esperem pelo Papai Noel, isso é até aceitável embora o esforço de tantos pais para arranjar dinheiro e comprar aquilo que o filho pediu na cartinha ao bom velhinho.
Supõe-se que a maioria das pessoas não concordem com isso. Ainda bem. O natal tem lá as suas chatices, mas é bom momento para que seres humanos se congracem, mais que isso, se unam. Nesse ano ele chega num momento de grandes dificuldades geradas pela pandemia viral. Recomendam-se cuidados para evitar contaminação pelo vírus. Festas familiares com muitas presenças são desaconselhadas. Mas, eis que o espírito de natal contribui para que a solidariedade prevaleça.
Mas, não há como ignorar o natal, nem o presente, nem os passados. Os filhos cresceram, já não se compram para eles os brinquedos que amarrávamos dentro de caixinhas tão bonitas. Agora a vez é dos netos. Serão eles a correr pela casa na noite que se avizinha. Trarão com sua alegria outras alegrias, já vividas, de tantos natais de tão boas lembranças. E nos farão outra vez os jovens que fomos em torno da árvore de natal com nossos filhos pequenos. É Cecília Meireles quem nos devolve esses momentos:
“São as cestinhas forradas de seda, as caixas transparentes, os estojos, os papéis de embrulho com desenhos inesperados, os barbantes, atilhos, fitas, o que na verdade oferecemos aos parentes e amigos. Pagamos por essa graça delicada da ilusão. E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias. Durável — apenas o Meninozinho nas suas palhas, a olhar para este mundo”.