Pantaleão e as visitadoras at Blog Ayrton Marcondes

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Lhosa

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Mario Vargas Lhosa faz hoje 80 anos e nós o vemos, entre sério e divertido, olhando-nos da foto em que apoia o braço sobre a cabeça de um leão de concreto ao pé de uma escada. Está ali o premiado escritor a quem tanto admiramos e devemos páginas e páginas de grande literatura. Não por acaso a Academia do Nobel o premiou em 2010: fez-se ali justiça a um incansável trabalhador das letras, dotado de incrível capacidade inventiva e enorme domínio da língua. O Nobel curvou-se a mais um dos poucos sul-americanos que vieram a merecer sua atenção. Basta dizer que o grande Jorge Luís Borges nunca recebeu o prêmio que de direito teria sido seu em várias ocasiões, tal a magnitude de seus escritos.

De Lhosa sempre se fala sobre sua desavença com o até então seu amigo Gabriel Garcia Márques a quem agrediu com um murro na cara. Márques-  que mais tarde também receberia o Nobel - jamais falou sobre o assunto de modo que a razão para a briga permanece insondável aos admiradores dos dois escritores, embora muita fofoca exista sobre o assunto. Aliás, a data como a de hoje nos proporciona a oportunidade de um olhar sobre o homem Lhosa, para além do premiado escritor. O Lhosa sempre combativo se destaca, seja através de seus artigos publicados na imprensa ou em sua incursão na política como candidato à presidência da República do Peru. Naquela ocasião Lhosa foi derrotado por Fujimori. Ainda bem. Perdeu o Peru, ganhamos nós, amantes da literatura.

O primeiro livro que li de Lhosa foi “Pantaleão e as visitadoras”. Lembro-me de que na época um amigo me falou sobre o livro e instou comigo para que o adquirisse. De fato, comprei o livro que li quase sem parar. Fantástico e divertidíssimo. O jovem capitão Pantaleão Pantoja é designado para organizar um bordel em plena selva para atender às necessidades de soldados que, no isolamento da floresta, atacavam mulheres, violentando-as e manchando a reputação do exército. Muito bem treinado, organizado, Pantaleão esmerou-se na sua função. De início solicitou informações com as quais montou um relatório detalhado no qual estabeleceu normas relativas à quantidade de prostitutas, pagamento da cafetina, desempenhos sexuais e assim por diante. A escrita de Lhosa, permeada por diálogos entre os quais se interpõem documentos oficiais do exército, faz a delícia dos leitores.

Vida longa a esse grande escritor que hoje festeja seus 80 anos de idade.

O Nobel de Vargas Lhosa

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Mário Vargas Lhosa concedeu entrevista dizendo que não esperava receber o Nobel de Literatura. Chegou a pensar que fosse um trote quando recebeu a notícia pelo telefone. Mas, era verdade, verdade essa que fez justiça a um dos maiores escritores da literatura latino-americana.

De fato é impossível falar sobre a literatura do continente sem referir-se a Vargas Lhosa. Nas últimas décadas o escritor peruano tem-nos premiado com romances, ensaios e artigos que demonstram a excelência de sua veia jornalística.

É sempre difícil escolher entre os muitos livros de um escritor aquele que preferimos. A escolha esbarra em muitos fatores, entre eles a época em que tomamos contato com determinado livro. Certamente a afinidade com um texto que nos diz respeito num determinado momento é preponderante na opinião que dele fazemos. Em assim sendo, penso que, ainda hoje, me parece que “Pantaleão e as Visitadoras” é o livro de Vargas Lhosa que li com maior prazer e mais gosto. Há, sim, “Conversa na Catedral” e “A Guerra do Fim do Mundo” que, entre outros, são excelentes trabalhos. Entretanto a história daquele militar que vai organizar um serviço de visitadoras para atender aos soldados do exército e o faz com tanta correção é para mim o melhor Vargas Lhosa.

Há quantos anos li “Pantaleão e as Visitadoras”? Há mais de vinte, certamente. Entretanto não me esqueci da trama e a cada vez que me lembro dela começo a rir.

Creio que não há para um escritor glória maior que escrever uma história que passe a fazer parte definitiva do imaginário de pelo menos alguns de seus leitores. Mário Vargas Lhosa certamente experimenta esse tipo de glória e não apenas por um único livro. Daí que é mais que merecido o grande prêmio que acaba de ser a ele concedido pela academia de Estocolmo.

Boa notícia a do Nobel de Literatura concedido a Mario Vargas Lhosa. Orgulho para o povo peruano e satisfação para os seus milhares de leitores.