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Trabalho Escravo

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Falar em trabalho escravo na época atual soa incoerência. Acreditamos na civilização e somos ciosos de suas conquistas, uma delas a liberdade individual. No Brasil, a Princesa Isabel colocou ponto final na escravidão em 13 de maio de 1888. Os historiadores divergem quanto ao peso da Abolição sobre a derrocada do Império, mas isso não tem lá grande importância, pelo menos em termos de memória: o significado humano da Abolição é bem maior que o fim do Império.

A liberdade individual está garantida na Constituição, mas é desrespeitada. Estamos cansados de ouvir histórias sobre pessoas que trabalham em regiões distantes e tornam-se escravos porque são obrigados a comprar víveres de seus senhores a preços que os salários que percebem não podem pagar. O endividamento decorrente desse tipo de negócio não é nada retórico: obriga o trabalhador a produzir mais, endividando-se progressivamente até que sua dívida acumulada torna-se impagável. As narrativas sobre casos desse tipo são coincidentes: o trabalhador é levado a um lugar diferente do que prometeram a ele; não é preciso vigiá-lo porque não há como ir embora; sua dívida cresce e desconta-se com a própria liberdade.

Situações de escravidão podem acontecer bem mais perto do que podemos imaginar. É o caso desses vinte e nove trabalhadores que foram resgatados por fiscais recentemente numa cidade do Paraná, a 149 quilômetros de Curitiba. Homens dormindo em currais, banheiros sem higiene, água de córrego para beber, falta de equipamentos de proteção para o trabalho, ausência de registro em carteira, não recolhimento do Fundo de Garantia, pagamento diário pelos serviços prestados e a anotação dos gastos pessoais em cadernetas…

O parágrafo anterior reúne condições observadas pelos fiscais e que traduzem o desrespeito pelos seres humanos, obrigados a situações humilhantes das quais não conseguem se livrar e que podem ser caracterizadas como de tolhimento de suas liberdades individuais.

Trata-se, sim, de outra forma de escravidão, que aquela encerrada em 1888 na qual uma raça era punida com a subserviência. Mas continua a ser escravidão, exploração do homem pelo homem, daí ser inaceitável.

Escrito por Ayrton Marcondes

4 junho, 2009 às 12:51 pm

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