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Os 30 anos do PT

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Conheci um camarada que tinha um jeito peculiar de dizer como entendia o problema dos outros. Certa vez, por exemplo, eu e ele conversávamos com um jovem japonês que afirmava não conseguir emprego justamente por ser japonês. Ao que o meu amigo disse:

- Eu já fui japonês, sei como é isso.

Era o jeito dele de irmanar-se aos outros, jeito aliás nem sempre bem sucedido porque, dependendo da situação, a coisa podia ser entendida como gozação.

Lembrei-me do meu antigo camarada e do seu estranho modo de ser nesses dias em que os jornais estão forrados de notícias sobre os 30 anos de existência do PT. De um lado figuram críticos ásperos ao partido, de outro os petistas que defendem a bandeira vermelha dizendo que o partido não se descaracterizou e manteve-se fiel às propostas iniciais.

Quem sou eu, primo, para entrar nessa briga de cachorro grande, movida por interesses maiores entre os quais está a disputa pela presidência da República. Mas, creio que nesse palavrório todo os petistas estão em desvantagem porque é difícil para eles demonstrar que o PT não mudou e permaneceu fiel aos seus princípios ideológicos. Daí que acho muito justo dizer aos petistas:

- Eu já fui petista, sei como é isso.

O problema é que já fui mesmo, vá lá que por curto período de tempo, na época da disputa entre o Collor e o Lula para a presidência da República. Na ocasião, o PT surgia de fato como uma alternativa para o país. Era uma espécie de luta entre a casagrande – representada pelo patriarcado nordestino na pessoa de Collor – e a senzala – a imensa massa de trabalhadores tendo a sua frente Lula, o seu expoente. Tinham, então, os líderes petistas uma linguagem, senão nova, pelo menos impactante, algo que permitia entrever uma mudança no país sempre no sentido de melhora, desenvolvimento etc. Havia, sim, a parte radical do discurso, mas essa nunca preocupou de fato porque se supunha que, se chegassem ao governo, os líderes petistas não iam, da noite para o dia, transformar o país segundo o arrivismo das palavras de seus membros mais extremados.

Ganhou o Collor e deu no que deu. Depois houve toda aquela panacéia do Pedro Collor, a corrupção do PC Farias (hoje seria café pequeno, não?) e o grande movimento que terminou com a renúncia do presidente. Naquela hora tive a impressão de que a história do país teria sido outra se o Lula tivesse sido eleito. Teríamos evitado todo aquele transe e a estagnação do país com as tresloucadas medidas econômicas da Zélia e companhia etc. Teríamos?

Pois hoje acho que votei errado naquela época. Talvez tenha sido melhor o Collor ganhar e acontecer tudo o que aconteceu. A verdade é que, aos trancos e barrancos, o país amadureceu. Agora, imagine você, se o Lula tivesse levado a eleição e se tornado presidente naquele instante. Ele não teria forças para domar o PT, nem o radicalismo e quem sabe o que teria acontecido ao país. Foi muito bom ele perder três eleições seguidas para ganhar depois. Durante esse tempo o atual presidente também amadureceu e ficou forte, tão forte a ponto de fazer do seu partido uma sombra que ele amolda do jeito que quer. Durante esse tempo muitos dos principais membros do partido envolveram-se em situações ilícitas e foram alijados do primeiro plano da política brasileira. Os Genoínos, os Dirceu, os Palocci e muitos outros decepcionaram aqueles que neles tanta confiança depositaram.

De modo que aí está um partido que fez o país sonhar com outro tipo de ordem, mas que decaiu transformando-se num partido movido a interesses, fazendo jus à alcunha de “Partido do Poder” como frequentemente é chamado pelos articulistas de jornais.