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Dúvidas crescentes
Não tenho lido romances. Nos últimos que li o gênero me pareceu cansado. Talvez tenha sido porque escolhi autores cujas narrativas não me dissessem respeito ou, de algum modo, não aguçaram as dúvidas crescentes que me atormentam. O passar do tempo funciona como abismo do qual não emergem respostas. Defino o tempo depois dos 60 anos de idade como época de incertezas. Você simplesmente não sabe o que o aguarda a partir de então. As velhas questões ressurgem irrespondíveis. Deus? Vida após a morte? Religião? Crenças nos tais valores universais que a cada instante são desrespeitados? E quanto à duração da vida? Até quando estarei aqui?
Daí que tenho me dedicado a textos de filósofos, embora me pareça que também eles teorizaram muitas vezes em vão. Entretanto, dessas leituras não há como não se dissociar a vida dos filósofos das obras que escreveram. Há o Platão da Academia, o Aristóteles do Liceu e por aí vai. Embora os dados biográficos disponíveis de Platão e Aristóteles nem sempre sejam confiáveis o que mais transparece do que se sabe sobre eles é o fato de que a virtude sobre a qual falavam nem sempre se coadunava com a vida prática que levavam. Se a nossa atenção for deslocada para Sêneca, grande defensor de valores éticos e estoico, fica difícil compreender a grande fortuna que amealhou em vida e mesmo sua estreita ligação com o tirano Nero quando imperador romano.
Crianças fazem perguntas simples as quais não sabemos responder, coisas sobre existir e não existir, para onde vamos após a morte etc. Creio que na velhice essas mesmas perguntas retornam e nos atormentam. A inteligência humana aprimora-se e quer respostas. No fim morremos sem saber e fato é que até hoje ninguém retornou para nos dizer como as coisas se passam no outro mundo. O resto é especulação. Aliás, especular é o que mais fazemos quando as dúvidas de sempre nos obrigam a pensar.