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A “melhor idade”
Concordo com a turma que detesta esse papo de “melhor idade”. Há quem se refira a isso com irritação dizendo que a velhice é uma m…, taxando esse período da vida como “pior idade”, etc.
Você está aguardando o momento de embarque num aeroporto e aparece uma mocinha que avisa sobre a prioridade de crianças, deficientes e pessoas da “melhor idade”. Muita gente de mais de 60 anos permanece na fila normal e não se dá o desfrute de gozar a regalia, talvez por não se sentirem deficientes, idosos ou sabe-se lá o quê.
Converso com pessoas acima dos 60 e verifico que a maioria delas não está a fim de se entregar. Um amigo meu participa de maratonas e conta sobre pessoas de quase 70 anos que correm bastante. Hoje em dia a expectativa de vida está mais alta e a turma da “melhor idade” está se virando para continuar ativa.
Por outro lado não deixa de ser verdade que o envelhecimento é acompanhado de uma série de restrições que se avolumam com o correr dos anos. Cada ano que passa pesa um pouquinho mais: as juntas não são as mesmas, os exames de laboratório mostram alterações, os movimentos e o equilíbrio podem ser afetados, a força muscular se reduz e doenças aparecem, algumas sérias. Isso sem falar na paciência talvez porque de tanto ver coisas repetitivas o idoso cansou-se de algumas delas. Além do que, como e sabe, a educação está em crise no país, daí que pouca gente confere aos idosos os cuidados e respeito que devem merecer.
Se começamos a falar sobre a vida dos idosos eis que nos defrontamos com a questão da sobrevivência. Suponha-se alguém de mais de 60 anos que pagou vida afora o INSS e agora atingiu o tempo de se aposentar. Os valores das aposentadorias são baixos daí que fica difícil manter o padrão de vida sem trabalhar. O problema se agrava com as inevitáveis necessidades de socorro à saúde porque a dependência do sistema público é difícil e não sem riscos. Quem pode pagar tem planos de saúde os quais, infelizmente, aumentam brutalmente as mensalidades quando o individuo se torna idoso. Isso não deixa de ser estranho porque pessoas pagam planos de saúde durante muitos anos quase sem utilizá-los: quando chegam à velhice e logicamente passam a precisar de cuidados o valor dos planos aumenta. A lógica das instituições responsáveis pelos planos de saúde é a de que se a pessoa vai usar mais tem que pagar por isso. Entretanto, não se consideram os muitos anos nos quais a utilização foi muito baixa. Lógica perversa.
Tenho mais de 60 anos e me sinto ótimo. Administro a minha paciência controlando os meus tímpanos, ou seja, ouvindo apenas o que me interessa e deletando o restante. Continuo com as minhas corridas e assim a vida segue. Uma vez por ano visito o meu médico e tento seguir as orientações que ele me passa. Assim, a vida não é ruim depois dos 60, mas atribuir à velhice o título de “melhor idade” beira a ofensa.