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O politicamente correto
Não sei se as chamadas “piadas de português” já passaram ao rol das discriminações. Se acontecer será uma pena porque algumas delas são ótimas. Consta que em Portugal existe o revide dada a existência de grande rol de piadas sobre brasileiros.
O afastamento de William Waack pela Rede Globo reacende a discussão sobre o racismo. O jornalista experimentado e de grandes méritos foi flagrado num vídeo de conteúdo racista divulgado na internet. Fosse em épocas distantes não se daria tão grande importância ao assunto. Mas, nesses tempos de politicamente correto será difícil, senão impossível, ao jornalista livrar-se da situação em que se encontra.
Há, também, o caso da atriz que gravou comercial, anunciando o lançamento de papel higiênico preto. O entendimento do teor racista do comercial gerou protestos e provocou as desculpas da empresa fabricante e da atriz.
Não é possível se negar a existência de preconceito racial no país. Por mais que se tente camuflar em nome da tal cordialidade dos brasileiros o fato é que preconceito e discriminação existem em grande escala. O diabo é que certos modos de falar incorporados aos discursos comuns do dia a dia passaram a ganhar peso maior nos dias atuais. Certas brincadeiras antes tidas como “normais” tornaram-se inaceitáveis.
Nos meus tempos de estudante, em São Paulo, certa vez aconteceu-me caso interessante. Estava eu num ônibus quando, de repente, o motorista parou num ponto, levantou-se e veio na minha direção. Era um negro alto que se dirigiu a mim, tratando-me pelo meu nome. Bem, era o Eleutério, Eu conhecera o Eleutério, irmão do Policarpo, em meus tempos de menino. O avô dos dois trabalhara para o meu avô, o Policarpo fora ajudante do meu pai. Depois a família deles se mudara para são Paulo e perdemos contato. De modo que foi grande a minha alegria de reencontrar o Eleutério e ter notícias da mãe dele que já se habituara à cidade grande e gozava de boa saúde. O detalhe é que na ocasião em que reencontrei o Eleutério, no momento em que ele se aproximava de mim, uma senhora sentada a meu lado recomendou: cuidado, é preto…
Para algumas pessoas o preconceito racial é uma barreira intransponível. Hitler exterminou 6 milhões de judeus em nome da necessidade de limpeza étnica. As fotografias de corpos amontoados em campos de concentração causam-nos mal-estar e nos levam a ponderar sobre os limites da maldade humana.
Leio que um rabino de 93 anos, homem que passou por cinco campos de concentração durante a guerra, não acredita na bondade humana. Para ele o homem é um ser naturalmente mau, capaz de selvagerias. Entende-se a opinião de pessoa que enfrentou tão grandes martírios e sobreviveu. Mas, não se pode generalizar. Demais o homem é um ser ambíguo. O verniz da civilização pode desaparecer diante de circunstâncias desfavoráveis. Em todo caso é preciso sempre repetir que racismo, intolerância, segregação racial e discriminação são inaceitáveis. Talvez por isso se torne cada vez mais difícil aceitarem-se manifestações de teor discriminatório como no caso do jornalista da Globo.