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Montevidéu
Você não sabe o que o espera lá, quando chegar. Escolheu essa viagem entre tantas possíveis porque o preço estava melhor, também porque disseram a você que a cidade é calma e você precisava de descanso – e muita calma como a de um campo imenso, verdíssimo e só lá, muito longe, uma pequena árvore de caule impreciso, talvez até retorcido. Entretanto, nada mais que uma só árvore num campo enorme, longo de se perder de vista.
Do avião nada que valha a pena se lembrar, exceto esse trajeto de mais de 20 Km após sair do aeroporto, dentro de um táxi, até os primeiros prédios, aqueles pequenos que vão ficando cada vez maiores, até a chegada ao centro, esse delicado demais para a capital de um país. O motorista do táxi viaja em silêncio até que avisa que pretende sair da Rambla para cortar caminho até o hotel. Você entende metade do que ele diz em tom apressado, mas diz que sim, que concorda, assim seja, que siga pelo caminho que ele conhece e que diminui a distância.
Depois da hospedagem a noite de sono, a manhã que começa com a inevitável pergunta de para onde ir, fazer o quê, coisas que acontecem a quem não se preparou para a viagem, só queria sair um pouco, fugir dos mesmos compromissos de mais de 30 anos, das coisas iguais de todo santo dia nos últimos 30 anos. Então o caso é sair à rua, andar pelo centro a esmo, sem bem saber para onde está indo, até o cansaço jogar você num bar para que a meia cerveja gelada tente colocar as coisas nos trilhos.
Não há muito que se dizer da cidade que é banhada pelo rio enorme que quase a engole inteira. Entre um conjunto de avenidas costeiras, as Ramblas, ergue-se a cidade que tem na praça principal um enorme portal para separar o passado do presente, a cidade antiga da cidade nova. Os que moram na cidade falam sobre o portal com orgulho porque ele separa épocas distintas - num lado que dizem ser o novo existe outro tempo, mais dinâmico, parte da história que se abre para a frente, carregando as esperanças do povo junto. Para lá do portal é o passado, as cabeças que pensaram e foram enterradas e agora não têm olhos para ver o outro lado, moderno e pleno de futuro.
Então o que mais me impressionou na cidade foi a existência da divisão entre o velho e o novo, o antigo e o moderno, tudo isso representado pela simplicidade de um portal enorme de pedra num dos cantos da praça principal. Dá as costas para o portal o General Artigas, montado em seu cavalo e olhando para a cidade nova, confiante no futuro da nação. O cavalo de Artigas, o Libertador do país, deslancha em disparada para a frente, deixando às suas costas o passado.
E isso é o que há de mais monumental em Montevideu. Para quem vai à cidade recomendam-se os restaurantes onde se come da melhor carne das Américas, talvez do mundo. Os preços são bem razoáveis e mesmo você que chega apenas com a intenção de deixar de lado um pouco os problemas de sempre acabará gostando. Não no primeiro, talvez também não no segundo, mas a partir do terceiro dia na cidade você começa a gostar dela, das ruas algo simples, do povo muito simpático, dos bares, do Teatro Solis, da praia. E se o que move você é a possibilidade de deixar coisas para trás, o portal – chamado de Porta da Cidade - poderá surgir como uma grande sugestão