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Presentes de natal
Aproxima-se o natal e as cenas se repetem. Como em todos os anos pessoas correm ao comércio a comprar presentes para os seus próximos. Há um frenesi de compras, reina a alegria que antecede a surpresa e, imposta ou não, a felicidade se estampa nas faces sorridentes. Quem divida ou não concorda com essas observações que se arrisque a um shopping para comprovar que, não importando o ano, as pessoas se entregam aos mesmos hábitos, afazeres e preparativos, comportando-se como se tudo fora novo e o natal uma invenção recente. Aliás, eu também, embora a minha preguiça de sempre de misturar-me à multidão de consumidores de última hora, aqueles que só vão atrás de presentes quando não tem mais jeito.
Ei, não sou contra o natal, muito menos contra a tradição de presentear pessoas nessa ocasião. Aborrece-me – esse é bem o termo – a imposição de presentear por hábito, quando não por obrigação. Entendo que presente é uma coisa tremendamente pessoal, algo que se encontra ao acaso e justamente nos dá o prazer de adquirir para dar a alguém de quem gostamos. Há nisso, segundo penso, muito de prazer, surpresa, aproximação entre pessoas, carinho e tudo o mais. Você dá algo de que gostou, a pessoa recebe um presente inesperado que a faz feliz.
Não é assim no natal. Por outro lado, o hábito e a tradição nos condicionam a receber e dar presentes. Isso está de tal modo arraigado em nossas naturezas que não proceder assim pode gerar ressentimento, senão tristeza. Trata-se, portanto, da famosa sinuca de bico: ou agimos de modo padronizado, ou corremos o risco de provocar desencanto em pessoas a quem queremos tanto.
Mas, nada disso é tão importante, o que vale é a noite de natal quando, afinal, esquecemo-nos de tudo e trocamos presentes, assim como fizeram os que vieram antes de nós e farão as próximas gerações, isso para a alegria geral da nação e de todo o comércio.
Escrevo sobre esse assunto após conversa com um amigo, ele indignado com os preços e a obrigação de dar presentes a tanta gente. Semana passada foi o amigo a um shopping fazer as suas compras. Para isso escolheu o horário das nove da noite o qual, segundo esperava, fosse de pouco movimento. Segundo me contou as agruras dele começaram já no estacionamento onde praticamente inexistiam vagas para deixar o carro. O resto das lamurias do meu amigo concentraram-se em lojas cheias, correria, muita falta de educação, mau humor e, finalmente, na gastança de dinheiro, segundo ele, imposta e desnecessária. Irritado, estendeu-se o meu amigo em críticas às datas inventadas pelo comércio, passando pelos dias de pais, mães, avós, namorados, natal, que nada mais são – segundo as palavras dele – momentos de pico de vendas urdidos pela gente de marketing, gente essa sempre pronta a criar ocasiões propícias à gastança.
Em vão ponderei sobre o outro lado das coisas, afinal datas como essas servem ao congraçamento de familiares e amigos que não ocorreriam de outra forma dada a correria da vida. Mas, nenhum argumento contribuiu para amenizar o mau humor do meu amigo, ainda às voltas com os eflúvios de uma noitada de compras de natal.
O fato é que não adianta espernear. A vida é assim, somos assim. Depois, na noite de 24 para 25, as coisas se passarão como sempre, haverá a ceia e a troca de presentes. Nessa ocasião provavelmente todas as atribulações serão esquecidas e a alegria daqueles que receberão os presentes que dermos a eles dará por bem pago algum esforço dispendido para comprá-los.
Feliz natal.