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Vaia dói
Aconteceu: a presidente da República, Dilma Roussef, foi vaiada e xingada no Itaquerão. Pegou mal. Estavam lá autoridades de outros países, isso sem falar nas bilhões de pessoas que acompanhavam o evento pela televisão em todo o mundo.
Olhe que a presidente bem que tentou não ser notada. Não fez discurso, não se apresentou. Sabia que seria vaiada como já fora antes. Mas, não esperava os “Dilma vá tomar no seu …” e outras preciosidades utilizadas para ofendê-la.
Depois disso a presidente veio a público para dizer que já passou por momentos piores, mas é forte. Não conseguirão intimidá-la com ofensas. E Lula apressou-se em dizer que as ofensas partiram de gente das classes abastadas porque pobre não teria dinheiro para pagar o ingresso do jogo.
Os candidatos à presidência afirmaram que Dilma colheu aquilo que vem plantando. Mas, apressaram-se em condenar as ofensas. Um jornalista escreveu que os que ofenderam falaram em nome de quem não estava lá. Uma jornalista publicou que Dilma ganhara o seu voto porque a ofensa foi contra as mulheres brasileiras não só em relação à presidente.
O Brasil vai passado ao exterior imagem bem diferente daquela de povo cordato, sempre pronto a sambar num carnaval. Aliás, pergunta-se por aí que imagem, afinal, o país pretende divulgar no exterior. A Copa seria uma grande vitrine, fazendo-nos conhecidos no mundo. Mas, chegou-se a pensar no que gostaríamos de divulgar? Um publicitário de renome disse que a Copa vai fazer mal aos negócios brasileiros porque contribui para expor, publicamente, as nossas mazelas e desorganização.
Parece que nem daqui dez anos se conseguirá consenso sobre os benefícios e prejuízos advindos da realização da Copa no país. Cada um tem sua opinião e as opiniões nem sempre coincidem. Mas, problemas de parte, a Copa está acontecendo com falhas bem toleráveis. O tão temido tsunami de acontecimentos desagradáveis simplesmente não está acontecendo. No fim os aeroportos estão dando conta e só a chuva e algumas inundações estão atrapalhando. Protestos pontuais têm sido reprimidos, alguns deles com exageros de violência. Nada fora da rotina que tão bem conhecemos.
Achei que a presidente não deveria ter se pronunciado sobre as vaias e ofensas que recebeu. Obviamente, ficou incomodada tanto que precisou dizer que é forte e nada disso a abala. O problema de deter o poder é que no fim das contas se estabelece uma distância entre o que se vê e a realidade. Talvez a presidente acredite sinceramente que o seu esforço em dirigir o país a torne imune a críticas. Talvez para ela os benefícios de sua administração sejam infinitamente superiores a eventuais percalços. Talvez para a presidente essa cambada de opositores não passe de um bando de derrotistas, incapazes de ver o lado bom das coisas. Talvez. O diabo é que a realidade do lado de cá é diferente e talvez justamente por isso pessoas mais agressivas não consigam segurar-se diante da oportunidade de dizerem o que pensam à primeira mandatária do país. Fizerm-no com exageros, é verdade, mas povo é povo e massas humanas são incontroláveis, disso deve estar ciente quem está exposto a elas.