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Esquecimentos

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Pessoas acima dos 60 anos de idade reclamam de esquecimentos. Outro dia telefonei a um amigo que comemorava seu septuagésimo aniversário. Conversa vai, conversa vem, perguntei a ele se estava bem. Ótimo, respondeu. Entretanto, reclamou de esquecimentos. Estava se tornando um sujeito meio esquecido. De coisas menos importantes então nem se fala.

A preocupação, obviamente, é com a doença de Alzheimer. Seriam sintomas iniciais da doença? No sábado ouvi entrevista de um neurologista que falou sobre o Alzheimer. Explicou que até o momento a medicina não dispõe de meios para combater a doença. De repente no córtex cerebral verifica-se a perda de neurônios ligados à memória. As lembranças vão se apagando progressivamente. Até o nada, o alheamento total. Na ocasião da entrevista um jornalista perguntou sobre a eficácia de exercícios de memória como meio de evitar a progressão do mal. Completou, dizendo que ouviu falar sobre a importância de fazerem-se até mesmo palavras cruzadas para manter-se o cérebro ativo. Outro jornalista citou o caso do empresário Antônio Ermírio de Moraes, conhecido por sua intensa atividade e que sofreu, ao final da vida, da doença de Alzheimer. Mas, na opinião do médico nada de realmente efetivo se pode fazer para evitar a perda final da memória.

Assisti ao filme “Alice” no qual a protagonista perde progressivamente a memória. O alheamento progressivo em relação aos membros de sua família e ao mundo que a cerca é chocante. A fase na qual a pessoa percebe estar com dificuldades de memória é dolorosa. É a despedida da própria razão pessoal, lenta e progressivamente anulando-se. Não dá para ver o filme sem sair com algum receio de que um dia venhamos a ter a doença.

Esquecimentos são mais ou menos corriqueiros com o avanço da idade. Sempre tive excelente memória em relação a fisionomias, mas péssima no tocante a nomes. Não posso dizer se essa situação tem-se agravado. De todo modo assusta-me não me lembrar de nomes ouvidos a pouco. Conheço uma pessoa, retenho a imagem de seu rosto, mas o nome…

Também acontece lembrar-me com detalhes de coisas do passado. Às vezes me recordo de situações vividas a muito tempo. Lembro-me delas com tal riqueza de detalhes que fico impressionado. Não deixo de me lembrar de fatos recentes, mas em geral me esqueço, por exemplo, de ter trancado uma porta, isso minutos após tê-la trancado.

O cérebro humano continua sendo um continente desconhecido apesar dos grandes avanços de conhecimentos sobre ele e técnicas para examiná-lo. A doença de Alzheimer é um mal para o qual não existem armas para combatê-la. Enfim o que se pode fazer é torcer para que estejamos livres desse mal. Torcer e esperar.