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A língua dos políticos
Numa semana de troca de farpas entre governistas e oposicionistas não há como não se render à evidência de que não se deve esperar muito da próxima campanha eleitoral em termos de propostas para o país.
As infeliz afirmação do presidente do PSDB, dizendo que os tucanos acabarão com o PAC por se tratar de uma ficção, forneceram oportunidade para que o presidente da República e sua candidata se manifestassem, de maneira bastante imprópria: o presidente dizendo que “quer fazer a campanha do quem sou eu e quem és tu”, a candidata afirmando que a vitória dos oposicionistas representará o fim dos programas sociais em andamento no atual governo, com prejuízo para as classes menos favorecidas.
Sem ao menos entrar no mérito da eficácia de programas como o PAC evidencia-se, mais uma vez, a grande dicotomia de um país capitalista no qual a disparidade social e econômica é por demais acentuada e, talvez, decisiva em termos eleitorais. O discurso da ministra obviamente dirige-se ao chamado “povão”, massa imensa de brasileiros desvalidos e eleitores os quais, sob ameaça de retirada das benesses assistencialistas a eles hoje disponibilizadas, não terão dúvidas sobre em quem votar nas próximas eleições. Não importa que as camadas mais letradas detectem um lamentável sofisma nas palavras da candidata – os jornais de hoje caem de pau sobre o pronunciamento dela. O que verdadeiramente importa é que o recado certeiro da candidata chegará ao seu público alvo, em sua maioria não dado a interrogações mais profundas que aquelas ligadas à sobrevivência imediata.
Mas que não se enganem aqueles que esperam dos políticos da oposição atitudes mais coerentes. Revides do mesmo nível e acusações contra o caráter de seus oponentes ocorrerão, infelizmente para o país. A pouco sutil afirmação do presidente do PSDB terá sido apenas uma “overture” da campanha que já se inicia.
Em um de seus textos o antropólogo Darcy Ribeiro dizia que a dor que mais doía a ele era a de envelhecer temendo que os jovens de seu tempo tivessem que repetir, no futuro, que o Brasil é um país que não deu certo.
Que o espírito de Darcy Ribeiro descanse em paz: o Brasil vai dar certo, estamos já a meio caminho disso. Acontece que talvez a realização do grande sonho demore mais do que seria esperado dado o perfil da classe política atualmente em atividade.
Mas não devemos nos preocupar: essas pessoas passarão e o país seguirá forte, imenso e fértil, livre das mentiras de ocasião e das personagens menores, cumprindo o destino que dele se espera.
Não tenham dúvidas quanto a isso.
O ano em que o Brasil virou uma certeza
- Tenho 50 anos, trabalho desde os 17. Quando comecei o Brasil era cotado como país de terceiro mundo. De lá pra cá muita coisa mudou. O país cresceu, hoje a economia é forte. Veja que atravessamos bem a última crise mundial. Tudo muito diferente daquela loucura de inflação, do descontrole, do tempo em que a dívida externa era o fantasma que assustava toda gente.
O homem pára, olha para o mar, toma um golezinho de aperitivo e continua:
- Olhe, eu não vou ver isso, mas o Brasil ainda vai ser país de primeiro mundo. Vamos chegar lá. Meu filho vai viver num lugar de primeiro mundo, meu netinho que tem só dois meses, esse então nem precisa dizer… Obra de quem? De muita gente. O Fernando Henrique colocou o país nos trilhos, estabeleceu as bases. O Lula faz bem a parte dele. Tem sorte, mas não é só isso não: ele é competente. Não adianta dizer que ele é analfabeto, etc. A competência dele está em ter colocado nos lugares certos gente que entende. Depois, foi só tomar conta dessa gente do governo. Mão forte para isso ele tem, não duvide. É como pedir para um sujeito como eu capitanear um navio. Se aceito? Claro que sim. Me dê aí o cara que toma conta das máquinas, os que cuidam do leme, os que definem a rota, enfim todo o pessoal necessário. Aí eu mando neles e o navio segue em frente. É por isso que digo: se o PSDB quiser ganhar a eleição não será criticando o Lula. Como em toda briga eles têm que atacar o ponto fraco do adversário que é impor outra pessoa que não seja o próprio Lula.
O homem se cala e eu o deixo com os olhos imersos na paisagem. Longe, o sol declina, lentamente, por entre nuvens, emprestando ao mar um colorido indescritível. As gaivotas que há pouco voavam tão perto, recolheram-se e, no céu, a Lua entre em combate com a presença já inoportuna do Sol porque anoitece.
Penso no Brasil da minha infância, nas esperanças de progresso e nas constantes decepções que tínhamos com o modo de evoluir das coisas. Tem razão o meu interlocutor ao dizer que não veremos, mas o Brasil será um país de primeiro mundo. Existe por aí afora, nos mais distantes rincões do país uma sensação nova, que já não é esperança, tornou-se certeza de que nada impedirá que o velho sonho de país desenvolvido enfim se concretize. Nesse sentido, 2009 pode ser entendido como o ano da virada, o ano em que o Brasil tornou-se uma certeza.