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Sorte ou acaso?
Quantas vezes ficamos com a impressão de que faltou só um pouquinho, muito pouco, para algo de muito bom nos acontecer, algo que talvez viesse a mudar a nossa vida. Guardamos lembranças de momentos estratégicos que poderiam tornar-se definitivos e acabaram não sendo. Isso sem falar nas escolhas que fizemos, umas tantas certas, outras erradas, algumas certamente infelizes e com profundas implicações em nosso futuro.
Muita gente confia na sorte ou, pelo menos, aposta nela. Que o digam os abnegados apostadores das loterias, os que se encantam pelos prêmios acumulados e enfrentam as filas das lotéricas com aquele sorriso malicioso de que “agora vai”. Esse “a minha vez há de chegar” serve como grande estímulo e empresta à rudeza do dia-a-dia uma dimensão superior como se, acima da condição cotidiana e quase sempre irreversível, estivesse reservada a possibilidade de um destino maior, mais amplo e feliz. Em outras palavras, deve existir uma força maior capaz de pinçar da vala comum seres predestinados pela sorte, bastando que certas coordenadas se ajustem, como, aliás, estaria previsto desde o nascimento da pessoa, impresso no mapa do destino dela.
Verdade que o mais provável seja de que tudo isso não passe de imensa bobagem. As coisas acontecem e pronto. O importante é estar no lugar certo, na hora certa. A sorte, se existe mesmo, procura aqueles que estão preparados para ela, os que se empenharam para estar em condições adequadas para aproveitar grandes oportunidades que surgem e assim por diante. Muita gente pensa assim. Trata-se de pessoas que têm o pé no chão, não acreditam em milagres e admitem que o esforço é tudo, nada simplesmente cai na cabeça de uma pessoa, de repente, mudando a vida para muito melhor, assim, vindo do nada.
Feitos esses preâmbulos veja-se o caso concreto desse cidadão do Reino Unido que comprou numa sucata um quadro só porque achou bonita a moldura. Pagou pelo quadro o equivalente a R$ 265,00 e deixou-o, durante seis anos, guardado no sótão da sua casa. Essa situação perdurou até a pouco quando, folheando uma revista, o cidadão notou a semelhança da tela que comprara com um quadro famoso desaparecido. Bem, nem seria preciso dizer que se trata de um quadro do pintor Cezanne cujo valor passa facilmente de 100 milhões de reais.
Simples, não? E há que se reclamar um pouco da sorte que, engenhosa, matreira, demorou seis anos para se revelar.
Aliás, sorte ou acaso?