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A navalha
Está preso, no Japão, Carlos Ghosn, empresário franco-brasileiro, diretor geral e presidente do grupo Renault. Ghosn é também presidente e diretor executivo da Nissan, presidente da Mitsubishi Motors e presidente da AvtoVAZ, brabicante russa de automóveis.
Ghosn é acusado pela Nissan de subestimar a própria renda em mais de US$ 80 milhões em relatórios apresentados ao longo de oito anos.
Naturalmente, Ghosn alega ser inocente e dispõe-se a pagar qualquer valor de fiança para sair da prisão. Até o momento era defendido por Motonari Otsuru, um ex-promotor que pediu demissão. Para substitui-lo Ghosn contratou o advogado Junichiro Hironaka, conhecido como “A navalha”. Hironaka é famoso pelo número de êxitos alcançados num país em que 99% das acusações formais são convertidas em condenações.
Os crimes financeiros de que Ghosn é acusado passarão, portanto, a serem defendidos por “A navalha”.
Nos noticiários aparece uma foto de Hironaka. É um japonês que aparenta estar entre os sessenta e setenta anos, engravatado, em cujo rosto passeia um sorriso mordaz. Cercado por jornalistas, está muito à vontade em seu papel de famoso advogado.
Hironaka conquistou o título de “A navalha” por ter conseguido absolvições em casos célebres. Confesso ter minha atenção chamada para o trabalho deste advogado justamente pelo título que se junta ao seu nome. Não imagino em nosso país algum advogado que pudesse ser conhecido como “A navalha”. Entre nós “navalha” permanece como inquietante instrumento de afiado corte, utilizado nas barbearias.
Infelizmente, o poder judiciário em nosso país passa por momentos de crise. Divergências quanto à interpretação dos códigos infundem desconfianças na população. Seria, talvez, o momento de surgirem por aqui algumas “A navalha”. Quem sabe o corte ferino desses profissionais recolocasse as cosias nos devidos lugares.