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Pobre virou genérico
Basta sair por aí trocando papos com conhecidos e estranhos. Hoje existe unanimidade quanto à incerteza. Ninguém sabe direito o que está por vir, mas sabe que coisa boa está fora de questão. Na esteira das incertezas fala alto o descrédito e a desesperança. Essas pessoas de terno e gravata que nos falam sobre a crise e os remédios a adotar para saná-las não nos parecem confiáveis. Mais parecem manipuladores de cifras astronômicas as quais, a todo custo, é preciso repor. Aliás, coisa impossível sem que o cidadão pague em novos impostos sua parte no espólio.
Tudo o que tinha que ser dito a respeito da situação atual do Brasil já foi falado e repetido. Milhares de palavras foram escritas quase todas para criticar o governo acusado de má administração. Do barco fazendo água tentam escapar muitos dos responsáveis pelo naufrágio anunciado. De repente alega-se desconhecimento e ausência de responsabilidade. Trata-se do salve-se quem puder pouco se importando com o país: o que interessa mesmo é a sobrevivência política. De olho nas próximas urnas é o mote.
Enquanto isso a situação se deteriora. Do que pouco se fala é dessa imensa massa de brasileiros que dão um duro danado e ganham merrecas de salários. No Brasil pobre virou entidade genérica. Usa-se “pobre” ou “pobres”. Quem são na verdade? Ora são “eles”. Quem? Bem, os que vivem nas periferias sem acesso aos mais básicos bens tais como água e esgoto. Saúde e moradia? Nem pensar. E os que moram nos recantos distantes do país, nas regiões dominadas pela seca etc. Essa turma é a que mais sofre. São sofredores genéricos porque a face deles não interessa a ninguém.
Mas, eis que a reforma fiscal é anunciada. Cortes na carne do governo mais escalada de impostos reverterão a situação. Você ouve e não acredita. Então fizeram o diabo com o dinheiro público, meteram-se no maior escândalo de corrupção de que se tem notícia e agora pedem o dinheiro do contribuinte para salvar o país? Não dá, né?
Tempos de crise não deixam de ter lá seu lado curioso. Veja-se a atuação de grandes manipuladores de massa que não se calam, excluindo-se da própria responsabilidade e acusando outrem pela culpa que lhes pertence. Seria risível não fosse absurdo e envolvesse o destino de tanta gente.
É bom repetir que no Brasil pobres foram convertidos em entidade genérica. Também não custa lembrar de que pobre é gente de carne e osso que ganha pouco e não merece ser vítima de tanta manipulação e safadeza.