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O caso do Sr. Pimenta
Nos idos dos anos 50 do século passado aconteceu ao Sr. Pimenta enlouquecer. Pode-se caracterizá-lo, naquela época como um louco manso. De fato, a loucura do Sr. Pimenta resumia-se a um conjunto de práticas que contrariavam a ordem costumeira das coisas. Andar com sapos nos bolsos das calças, instalar fechaduras com a tranca do lado de fora das portas e outras pequenas falhas constituíam o universo em que aportara aquela mente, antes disso tão equilibrada.
Mas, a loucura do Sr. Pimenta tinha lá esquisitices que muito impressionavam os seus conterrâneos. Entre elas certamente se destacava a estranha amizade que passara a desenvolver com algumas espécies de animais. O já citado caso dos sapos com os quais estabelecera grande relacionamento muito impressionava. Não era incomum ver o louco com um sapo nas mãos, dirigindo a ele palavras que pareciam constituir eloquente troca de ideias. Tamanho contato com esses anfíbios resultou na atitude de colocar vários sapos sob as cobertas da cama onde sua esposa dormia. Foi o contato da pele fria dos sapos que despertou a velha senhora, diga-se, gritando diante do horror da situação em que se viu envolvida.
De grande repercussão, entretanto, foi a relação estabelecida pelo Sr. Pimenta com os corvos. Pois houve um dia no qual, estranhamente, presenciou-se o Sr. Pimenta a andar na rua tendo um corvo a seguir seus passos. Ora, sabe-se que corvos não são associados a boas coisas, entre elas a própria morte. No caso específico do corvo que acompanhava o Sr. Pimenta depressa compreendeu-se que tão estranha relação teria o significado de prenuncio do fim dos dias, ou, seja, da morte.
Durante três dias o negro pássaro fez corte ao louco. Quando estava ele no interior de sua casa eis que a ave de negra plumagem acomodava-se no telhado.
No terceiro dia eis que o Sr. Pimenta enfim descansou. Seu féretro foi acompanhado pela família, amigos e… pelo corvo. Comprova o fato uma foto à qual más línguas atribuem o artifício de uma montagem.
É certo que tal narrativa não fará eco na maioria das pessoas que a tomarão por nada mais que exercício ficcional. Entretanto, notícia recente nos dá conta de um fato até hoje desconhecido: “os corvos pensam”. Cientistas atestam que corvos são, inclusive, capazes de montar ferramentas que permitem a eles conseguir alimentos. Não são os homens, portanto, os únicos seres na natureza a pensar. Corvos, macacos e talvez outros seres pensam, elaboram pensamentos.
Certamente o corvo que acompanhou os últimos dias de vida do Sr. Pimenta tinha consciência do que estava a fazer. Havia entre ele e o louco estranha relação cuja natureza não pode ser alcançada pelos meios de análise hoje disponíveis.
Meninos, eu vi.