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A política exterior
A questão de limites do Brasil com a Argentina foi decidida, em 1890, através do Tratado de Montevidéu segundo o qual área em disputa, o território das Missões, seria divida entre os dois países. Pelo Brasil assinou o tratado o então Ministro das Relações Exteriores Quintino Bocaiúva; pelas Relações Exteriores do governo argentino assinou Estanilau Zeballos.
Quintino era respeitado jornalista e republicano de primeira hora, daí participar do primeiro ministério da República de 1889. Seus biógrafos o descrevem como contemporizador por índole. Idealista, sua política à frente do ministério desenvolveu-se no sentido de aproximar as nações da América, em particular a República Argentina que vivia em permanentes disputas com o Brasil.
Os livros de história apresentam fartas descrições das atividades do ministério ao tempo do governo Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil. Faziam parte dele homens como Rui Barbosa (Ministro da Fazenda) e Campos Salles (Ministro da Justiça), entre outros.
O problema em relação ao tratado assinado por Bocaiúva é que, naquele tempo, o povo protestava. O fato é que a incipiente sociedade do Rio de Janeiro – então capital da república – recentemente saída de um sistema escravocrata não recebeu bem a notícia do Tratado de Montevidéu, entendendo que o Brasil fora lesado. Da constatação a população partiu para a ação: Quintino foi recebido, em seu retorno ao país, com uma onda de protestos.
Baseando-se em documentos, historiadores afirmam que Bocaiuva não agiu sozinho ao assinar o tratado, mas em acordo com os membros do ministério e com o próprio presidente da República. Os mesmos historiadores atribuem aos monarquistas, então recentemente apeados do poder, e à sua imprensa o insuflamento da opinião pública.
De qualquer modo a grita pública surtiu efeito: o Congresso Nacional rejeitou os termos do Tratado de Montevidéu. A partir daí o litígio foi submetido à decisão arbitral do presidente Cleveland, dos Estados Unidos. Este assinou, em 1895, a decisão arbitral que favorecia amplamente o Brasil. O tratado de limites entre os dois países foi assinado três anos depois.
Mas, os tempos são outros. Notícias atuais sobre a política exterior brasileira em relação a seus vizinhos são divulgadas com frequência, algumas delas com relatos de riscos aos interesses do país. O pagamento de valores três vezes maiores pela energia excedente de Itaipu é só a ponta do iceberg nas negociações com o país do ex-bispo Lugo. O mesmo se pode dizer em relação aos negócios com o governo de Evo Morales sobre o do gás boliviano. No geral, as críticas referem-se a um pacote de bondades, enfim à possibilidade do Brasil ceder aos interesses dos países vizinhos. E a cega aliança com Hugo Chaves? E a tomada de partido no conflito diplomático entre Colômbia e Venezuela quando o caminho seria o de apaziguar os ânimos? Que dizer das recentes restrições à importação de produtos brasileiros pela Argentina?
A diferença em relação aos velhos tempos é que hoje em dia ninguém protesta. Desse “ninguém” descontam-se uns poucos artigos de jornal e vozes esparsas que alertam sobre a atual política exterior e os possíveis prejuízos ao país dela decorrentes.
Já não se vai às ruas para protestar, exceto em casos de interesse localizado como o dos ônibus fretados em São Paulo.
Reina por aí alguma felicidade com os reajustes eleitoreiros dos valores desembolsados pelo Bolsa Família. No mais, o Brasil vai bem, obrigado. Se você discorda, feche os olhos porque no escuro tudo pode parecer normal e correto.
O Nobel e o Brasil
José Ramón Calvo, criador do Campus Excelência para prêmios Nobel e estudantes, declarou ao jornal espanhol La Vanguardia que a quantidade de prêmios Nobel indica a qualidade de um país. Segundo, ele pesquisas indicam que existe uma relação direta entre a capacidade inovadora de uma sociedade, a qualidade de seu sistema educativo e de pesquisa, seu talento e criatividade, e o número de prêmios Nobel.
O Prêmio Nobel foi criado em 1900 a partir do testamento deixado pelo químico e industrial sueco Alfred Nobel, o inventor da dinamite. Nesse testamento Nobel deixou a sua fortuna para a criação de uma instituição que premiasse, no futuro, aqueles que servissem à humanidade. Surgiu assim a Fundação Nobel que anualmente confere prêmios de química, física, medicina, literatura, economia e paz a pessoas que se destacaram nessas áreas, independentemente de sua nacionalidade.
Passados mais de cem anos desde a criação do prêmio nenhum brasileiro foi, até hoje laureado fato que, segundo o critério adotado por Ramon Calvo nos deixa numa situação bastante desfavorável. Entretanto, é preciso muito cuidado com generalizações que colocam num mesmo saco todas as variantes culturais de um vasto país como o Brasil. Desnecessário é dizer que na base da pouca projeção do país em termos de premiações estão as terríveis deficiências do atual sistema educacional e de pesquisas. Seria longa demais a exposição da permanente crise do sistema educacional, da falta de incentivos à pesquisa e da ausência de um desenvolvimento técnico-científico comparável ao de outros países. Satélites artificiais, viagens à Lua, produção de bombas atômicas, estações espaciais e escudos antimísseis são apenas a face espetacular dos avanços conquistados pela ciência nas áreas da matemática, da física e da química. Resultaram eles não só da tradição de pesquisa em países desenvolvidos como, também, de formidáveis investimentos destinados a ela. Por detrás das conquistas obtidas nas áreas do conhecimento obviamente existe a tradição de cientistas, laboratórios e pesquisas que, vez por outra, abrem caminho para que alguns deles sejam laureados.
Respeitáveis críticos concordam que a literatura brasileira é fraca apesar da existência de grandes escritores em todas as épocas. Entre as razões apontadas para a falta de vitalidade da literatura nacional estão fatores como a ainda hoje observada dificuldade de circulação de livros, falta de bibliotecas e a histórica opção do mercado editorial brasileiro pela tradução de obras estrangeiras. Prevalecem, assim, os interesses econômicos em detrimento do talento de jovens escritores que, desestimulados, deixam de escrever. Além do mais, sabe-se que não raramente a escolha de premiados com o Nobel nas áreas de literatura e paz está ligada a outros fatores além da obra em si, entre eles as determinantes políticas.
É assim que vai sendo construída uma história cultural brasileira sem a conquista de um prêmio do qual os povos do mundo muito se orgulham. Até hoje Rui Barbosa é citado como exemplo da inteligência brasileira pelo brilho de sua participação na Conferência de Haia, realizada em 1907. Foi por ela que o grande Rui passou a ser conhecido como a “Aguia de Haia”. No livro “Ordem e Progresso” Gilberto Freyre fala sobre o orgulho do povo brasileiro em relação a homens como Santos Dumont, prova inconteste da capacidade da nossa gente.
Por essas e outras, pela educação, civilidade e valorização do conhecimento, esperamos tanto a melhora do sistema educacional brasileiro.