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O fim de uma era
Tudo tem um fim, não há como evitar que isso aconteça. Eras de ouro passam e, ao final, restam sinais da glória e poder passados.
Está nos jornais a foto de um soldado iraquiano sentado sobre o capô de uma Ferrari cor de rosa. Ao lado dela um Porshe preto. Os dois carros, valiosos, estão empoeirados e com aspecto de abandonados. Ambos pertenciam a Uday Husseim, filho de Saddam Husseim.
Uday, como se sabe, nunca foi bom camarada. Filho primogênito de Saddam ele foi acusado de vários crimes. É dele a monumentalidade de ter-se irritado e matado um provador de comida durante jantar de homenagem oferecido, pelo governo iraquiano, à primeira-dama do Egito. Tortura com pancadas nos pés de jogadores de futebol da seleção nacional derrotados em jogos, sequestros de mulheres nas ruas para estuprá-las, espancamentos e outras barbaridades faziam parte do currículo do filho de Saddam. Depois da Copa do Mundo de 94 Uday obrigou os jogadores do Iraque a chutar bolas de concreto por não terem chegado à final.
Vivia este ser num palácio, com direito a jardins e zoológico particular. Foi morto, juntamente com o irmão Qusay, durante a invasão do Iraque pelos Estados Unidos.
Uday possuía 1200 carros de luxo, entre eles um Rolls-Royce cor de rosa. A essa frota de veículos, muitos deles segundo as más línguas roubados, pertenceram a Ferrari cor de rosa e o Porshe preto que agora parecem descansar numa garagem de chão de terra. Não fossem os carros e esse soldado sorridente que parece olhar para o futuro, Uday só seria lembrado por sua imensa covardia, cometida contra cidadãos indefesos.
Os Husseim passaram, sua era de glória e poder chegou ao fim. Os EUA retiram-se de um país lançado à própria sorte depois de grande destruição. O homem que convenceu o mundo de que o Iraque possuía armas nucleares – aliás, inexistentes – deixou o governo dos EUA e dedica-se a publicar memórias. Quando a Saddam documento divulgado pelo WikiLeaks informa que ele tremia, descontroladamente, minutos antes de ser enforcado.
No mais a vida segue em frente, esquecida das mentiras e horrores praticados no passado, essencialmente comprometida com o agora.
Adeus Iraque
Mais de sete anos depois os EUA retiram suas tropas do Iraque e legam à História uma muito mal tecida colcha de retalhos, alguns deles com uma inscrição ilegível, mas que bem poderia ser “não existem bonzinhos quando estão em jogo os interesses nacionais”.
A verdade sobre todos os fatos é que não existe verdade. No grande jogo de interesses as informações são manipuladas e as explicações muitas vezes tecidas sobre enormes farsas, a começar pela razão apresentada pelo governo Bush para invadir o Iraque: colocar fim às armas de destruição que o Iraque estaria desenvolvendo.
Com a humanidade em perigo, nada mais justo que os campeões da democracia tomassem para si a missão de salvar o mundo. Assim foi. Os norte-americanos desembarcaram no Iraque e, rapidamente, desestruturaram o Estado iraquiano, levando o país a um estado de confusão praticamente insolúvel no qual saques e violências não reprimidas tornaram-se norma. A motivação de prender Saddam Husseim, colocar fim à ditadura e devolver o país à democracia foi substituída por um estado de anarquia com conflitos de etnias e sempre muita violência.
Agora os EUA vão-se embora sem ter alcançado os resultados prometidos e, pior que isso, sem encontrar as armas de destruição que, afinal, nunca existiram. A essa altura é impossível prever o que acontecerá ao povo do Iraque daqui por diante. A torcida, obviamente, é para que as coisas se ajustem.
Da malfada Guerra do Iraque restam-nos fatos e imagens que dificilmente serão esquecidas. A derrubada da estátua de Saddam é uma delas, acontecimento seguido pela infeliz cobertura do rosto com uma bandeira dos EUA; os episódios de Abu Ghraib; e as terríveis cenas do enforcamento de Saddam Husseim. Isso sem falar em atentados…
Outra coisa sobre a qual se pode especular, mas não prever, é como o futuro narrará os fatos ocorridos durante a Guerra do Iraque. A impressão é a de que a História não será benigna com as ações do império norte-americano.