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Para ser santo
Hoje é o dia em que, finalmente, o jesuíta José de Anchieta ascenderá à categoria de santo. Ao assinar a santificação de Anchieta o papa Francisco incorporará o terceiro santo brasileiro à grande galeria de santos da igreja.
Desde que me entendi por gente e frequentei as cerimônias católicas me perguntei por que existem tantos santos europeus e tão poucos latinos. Certa vez perguntei isso a um padre e ele me explicou que para a canonização são necessárias a fé cristã e dois milagres reconhecidos com tal. Essa resposta me fez pensar que talvez entre os europeus houvessem pessoas melhores, de tal forma dotadas que receberam a graça de operar milagres. Talvez em nossas terras tivesse se gerado um povo no qual as qualidades cristãs não tivessem medrado. Não se trataria, portanto, de descuido da Santa Sé, mas de práticas calcadas na realidade.
A isso se acrescente o fato de que só viemos à luz há pouco mais de 500 anos. Bem antes a humanidade já pelejava na Europa, construía igrejas e discutiam-se filosoficamente os problemas que cercam a existência do homem. Sendo o nascimento de Jesus o ano zero de nosso calendário teriam os europeus muito mais tempo e cultura para gerar figuras santificadas entre os seus.
Deixando de lado essas dúvidas mais ou menos heréticas vale dizer que em boa hora o nosso valoroso José de Anchieta é santificado. Torna-se ele santo após longa espera de decisão pela Santa Sé que achou por bem abrir mão de milagres porque consta que o jesuíta nunca operou nenhum deles.
Para nós José de Anchieta sempre será um homem de extraordinária energia que teve força e coragem para se embrenhar naquele Brasil recém descoberto, pregando a fé cristã e participando de momentos importantes de nossa história como a fundação do Colégio de Piratininga que deu origem à cidade de São Paulo. Chegando ao Brasil em 1553 teve diante de si uma terra a ser desbravada e uma população indígena a ser catequizada. Aplicou-se ele com tanto amor e dedicação à sua missão que passou a fazer parte da história do país em seus primórdios.
Então o Brasil passa a ter seu terceiro santo. Não sei se hoje esse acontecimento será motivo para comemorações, nem mesmo se o santo Anchieta conta com fiéis como acontece, por exemplo, com o Frei Galvão de Guaratinguetá. Mas, em se tratando de Anchieta o que realmente importa é fato de ele merecer a distinção que hoje recebe. Afinal, o jesuíta foi dos primeiros a trilhar os caminhos que hoje percorremos sem nos darmos conta das dificuldades enfrentadas e superadas no passado.