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Daqui a 150 anos
Aconteceu de um rapaz me perguntar se é verdade que, em 150 anos, o mar avançará tanto que uma cidade litorânea, como Santos, terá deixado de existir. Estávamos no último andar do prédio onde moro e olhávamos para o mar num dia inesperadamente belo. Ao ser perguntado não resisti e disse ao rapaz:
- Dizem que sim, mas não pretendo esperar.
Depois desse curto diálogo a primeira coisa em que pensei foi no desaparecimento de civilizações. Os canais pagos frequentemente repetem um documentário sobre Machu Picchu, a cidade perdida dos incas. Não deixa de ser interessante ver imagens de um local situado a 2400 m de altitude que conserva vestígios de um povo que ali viveu. Templos, casas e cemitérios datados da era pré-colombiana permanecem como testemunhos da extinta civilização inca. É a ideia do que foi e deixou de ser, de desaparecimento total que instiga a curiosidade, sugerindo que também a civilização humana um dia terá fim, nada restando do mundo que construímos e no qual vivemos. A finitude é arrasadora, corrói a noção de eternidade e afeta diretamente o sentido que damos à vida. Afinal, se tudo pode acabar de repente, se aquilo em que acreditamos não nos pode valer numa hora extrema, que sentido podemos dar a tudo isso?
Quem gosta desse assunto é Hollywood. Filmes e filmes são produzidos tendo por tema o fim do mundo. O apocalipse nos espera, mas pode vir de várias formas: movimento de placas tectônicas resultando numa formidável reação dos mares cujas águas cobrem tudo, colisão de corpos celestes com a Terra, vinda de alienígenas mais avançados tecnologicamente para dominar e destruir o planeta etc. Em situações como essas vemos nas telas humanos fragilizados, correndo desesperadamente para fugir a algo impossível de evitar porque maior e definitivo, impondo-se o fim à civilização humana. Imagens de cidades inteiras engolidas pelas águas são terrificantes. Nova York, símbolo da pujança norte-americana, é a preferida dos cineastas. De fato, são inúmeras as vezes em que a Estátua da Liberdade é derrubada pelas águas oceânicas, dando início a um processo de destruição e desparecimento total dessa grande metrópole.
Mas, à pergunta do rapaz. De que as consequências do efeito estufa são notáveis, entre elas o degelo das calotas polares com subida do nível dos mares, todo mudo sabe. Existe, sim, um grupo de cientistas que discorda disso, mas o consenso é o de que as nações devem cuidar com urgência da poluição e emissões de gases para evitar as consequências do efeito estufa. Demais, nos últimos tempos os fenômenos atmosféricos tem-se tornado mais frequentes e agressivos. Temperaturas elevadas, grandes secas, chuvas excessivas, furacões, tornados, tsunamis e terremotos têm acontecido com frequência assustadora. Neste momento mesmo está em andamento o furacão “Katia” que ameaça as Bermudas e a costa leste dos EUA. No Brasil a secura do ar é recorde em algumas capitais. Entretanto, daí à subida do nível dos mares a ponto de encobrir cidades há uma distância muito grande, pelo menos por agora.
O rapaz que me fez a pergunta é um jovem cuja formação não passa de básica. A ele escapam as explicações e teorias acerca do ambiente. O que o assusta é a noção de que tudo acabará um dia, o fim do mundo. Pedreiro de ofício o rapaz vive a construir e sabe quanto esforço é necessário para erguer uma simples parede. Talvez por isso a ideia de uma destruição total, em poucos minutos, de algo grandioso e construído ao logo de tanto tempo o revolte. Foi o que me disse depois. Para ele nada disso chegará a acontecer porque sempre existe um jeito de impedir, quem sabe a ação divina a proteger os homens.