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Torcida única
Na final do Brasileirão de 1977- realizada no Mineirão, em março de 1978 - fui a Belo Horizonte para ver o jogo. Já no avião a vitória do Galo era cantada em prosa e verso. Repórteres esportivos cariocas diziam, para quem quisesse ouvir, que se tratava de jogo para cumprir tabela. O grande time do Galo já era o campeão.
Como se sabe futebol se ganha dentro das quatro linhas e só depois do apito final do juiz. Deu São Paulo nos pênaltis. No Mineirão lotado de atleticanos o silêncio era ensurdecedor. A torcida são-paulina ficara num canto, espremida entre os rivais. Éramos não mais que uns 500 diante da avassaladora maioria atleticana.
Terminado o jogo saímos, eu e mais dois amigos, muito quietos. Receávamos extravasar a alegria pelo título, afinal pisávamos território inimigo. Mas, nem assim passamos despercebidos. Já na rua um atleticano nos parou e, dirigindo-se a mim, disse: vocês tiveram muita sorte hoje, tanta que podem passar sem risco.
Como aquele mineiro descobriu três paulistas em meio à multidão até hoje não sei. Mas, não creio que houvesse perigo. Brigas no futebol sempre existiram. Assisti a jogos em que ocorreram grandes quebras entre torcidas. A paixão pelo o time do coração leva muita gente ao descontrole e dá no que dá.
Entretanto, não havia essa coisa tremenda de torcedores de equipes contrárias marcarem encontros, pela internet, para simplesmente brigarem. Violência atrás de violência, com gente ferida e até mortes muitas vezes de pessoas que, por acaso passavam pelo local da ocorrência. Homes armados com pedaços de pau, facas etc. digladiando-se, animalmente, pelo simples prazer do confronto.
Segue-se que a Justiça determinou, em São Paulo, a obrigatoriedade da presença de torcidas únicas nos jogos. Evita-se, assim, a progressão de cenas lamentáveis, nas quais destaca-se a pura bandidagem empenhada em agressões a quem quer que seja. Mas, com isso, perde todo mundo. Perde o futebol muito em vibração. Perdem as equipes com redução das rendas dos jogos. Perde o torcedor impedido de acompanhar o seu time nos jogos em que não figura como mandante.
Mas, que fazer diante da violência incontida? Como controlar a sede de luta de grupos que marcam seus embates até mesmo em lugares afastados dos estádios? De grupos que organizam emboscadas?
Está na internet a fotografia de um homem atingido e morto quando passava por lugar de conflito entre torcedores de clubes rivais. Pede-se a quem por acaso o conheça o favor de identificá-lo. Vítima da bestialidade permanece ele à espera de que venha a ser devolvido à família para a realização do funeral.