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Sentimento nacional
Anos atrás, durante viagem de ônibus em cidades do interior dos EUA, fiquei surpreso com as bandeiras do país colocadas à frente das casas. Na ocasião um homem que viajava no mesmo ônibus disse a guisa de explicação:
- São os nacionalistas.
Ruas longas nas quais não se via ninguém e bandeiras enfileiradas, tremulando no jardim das casas. Bandeiras quase sempre do mesmo tamanho, atestando o orgulho e o amor daquela gente pelo seu país. Um velho, sentando próximo a mim, aventurou-se a explicar as bandeiras:
- O americano é assim. As guerras os uniram num sentimento de amor ao seu país. Deriva daí certo desprezo pelo que não é americano. O mundo deve se curvar ao grande império do norte e os cidadãos desse império acreditam e usufruem da superioridade do seu país. Não é a toa que os demais países figuram na visão deles como nada mais, nada menos, que tributários da sua grande nação.
Até hoje não sei dizer sobre o acerto das coisas que ouvi naquele dia. Ficaram como fato incontestável as bandeiras e o sentimento nacional dos americanos. De todo modo não é o que se vê por aqui. Não por acaso o mundo se revela espantado com as manifestações que eclodiram no Brasil nos últimos dias. De repente aquele brasileiro padrão, pacato, musical, sexual, futebolístico, carnavalesco, cedeu lugar a um tipo que protesta, agride e exige. O fato parece tão desenraizado de nosso modo de ser que ainda hoje os críticos e estudiosos não encontram o modo adequado de explicá-lo. Paira no campo da sociologia brasílica uma enorme interrogação não se sabendo dizer de onde veio e para onde vai essa nova face que se revela nos brasileiros.
O império de Pedro II logrou manter a unidade nacional com pessoas falando a mesma língua e sendo geridas pelo mesmo governo central. Nisso a gente portuguesa se saiu melhor que seus vizinhos de língua espanhola os quais se repartiram nas várias nações da América Latina. Imagino que talvez seja mais fácil a manutenção de uma identidade nacional em países de menor área geográfica embora contra isso exista o que acontece justamente nos EUA. Não sei se é possível estabelecer essa relação, mas sempre me perguntei por que povos como os argentinos se mostram, pelo menos aparentemente, mais politizados que os brasileiros, É fato que um motorista de táxi na Argentina é capaz situar o seu passageiro a respeito da política em seu país e discutir pormenores dos últimos acontecimentos. Talvez já não seja assim aqui no Brasil, mas temo que grande parte da população do país não só não se interesse como não tenha conhecimento detalhado da vida política na pátria verde-amarela.
Num fim de semana desses fui até Assunção. Mais uma vez me surpreendeu o interesse e o conhecimento das pessoas sobre o que se passa em seu país. A suspensão do Paraguai pelo Mercosul, motivada pela deposição do então presidente Lugo, calou fundo no coração dos paraguaios. Agora os presidentes ligados ao Mercosul se reuniram em Montevideo e decidiram readmitir o Paraguai a partir da data de posse de seu novo presidente, o recém-eleito Horacio Cartes. Pois Cartes agradece a gentileza e a recusa por entender que a admissão da Venezuela no Mercosul foi ilegal. A isso se acrescente que a deposição de Lugo foi realizada em tempo recorde, mas foi legal e democrática além do que se realizaram as eleições previstas na constituição, elegendo-se um novo presidente.
Não sei as quantas anda o sentimento nacional dos paraguaios, mas presumo que deva estar em alta.