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Viagens espaciais
Tenho tendência a considerar tudo o que se relaciona ao espaço sideral como parte de histórias de ficção. Talvez isso tenha a ver com a minha infância, tempo no qual a Lua era nada mais, nada menos, que a Lua mesmo com o São Jorge dela e tudo. Viagens espaciais só as do Flash Gordon, seriado que passava nos cinemas após os filmes principais. Toda semana esperávamos o fim do filme para assistir as aventuras do Flash no planeta Mongo onde reinava o terrível imperador Ming. Flash e a namorada dele, a Dale Arden, auxiliados pelo Dr. Zarkov, se metiam nas maiores encrencas fora da Terra. Os episódios da série sempre terminavam com o Flash numa situação perigosa que nos parecia insolúvel. Mas, tínhamos que esperar uma semana para assistir, no domingo seguinte, o próximo episódio da série no qual, de um modo ou de outro, o Flash se safaria da situação escabrosa em que havia se metido.
Creio que a descida dos astronautas norte-americanos na Lua, o tal grande passo da humanidade, abriu uma brecha entre a ficção e a realidade. Afinal, aquilo que só parecia possível na ficção tornava-se realidade, embora o satélite nada tivesse de atrativo. Ao contrário dos planetas frequentados pelo Flash Gordon, a Lua mostrou-se um lugar ermo, sem água, sem nada que pudesse atrair a nossa atenção. Sempre repito que, assim como todo mundo, assisti pela televisão ao momento em que Neil Armstrong pisou na Lua e, na sala onde eu estava naquela ocasião, ouvi de pessoas presentes que aquilo não passava de invenção dos americanos, reis que eram eles nessa coisa de fazer filmes.
Depois da viagem à Lua outras explorações do espaço aconteceram nos últimos anos de modo que acredito não ser possível que alguém ainda duvide da existência de viagens espaciais. Agora estão anunciando viagens ao espaço para quem quiser pagar por elas e parece que, até o final desse ano, será realizada a primeira incursão turística na área espacial. Imagino que olhar o nosso planeta de fora dele realmente seja muito interessante e desafiador à compreensão que temos das nossas vidas e modos de ser. Recentemente, durante viagem de avião, sobrevoamos a região onde moro. Ver lá de cima os prédios em tamanho reduzido pela distância e pensar que aquele era o lugar onde a minha vida se passava deu-me a impressão de uma pequenez insolúvel e traumática. Afinal que era eu não só neste mundo, mas em relação à vastidão do espaço? Pois se uma simples olhada através da janelinha de um avião proporcionou tal impressão, imagino o que venha a ser estar fora da Terra, no espaço, contemplando o planeta em que vivemos.
Hoje se noticia que um grupo empresarial pretende explorar asteroides para retirar minérios raros na Terra, como é o caso do paládio e da platina. Entre os membros do grupo figura, na qualidade de consultor, o cineasta James Cameron, diretor de filmes como “Titanic” e “Avatar”. Segundo se informa um asteroide de 500 metros tem mais platina do que toda a quantidade desse minério já obtida na Terra. Os membros do grupo são bilionários de modo que dinheiro não será problema para a execução das fases do projeto que culminarão em viagens espaciais não tripuladas com a finalidade de extrair minérios.
Existem cerca de 9000 asteroides próximos da Terra e informa-se que 1500 deles são tão fáceis de visitar quanto a Lua.
Eis aí uma dessas notícias que nos dão a impressão de que, na verdade, Cameron vai mesmo é fazer um novo filme. Não tem jeito: a coisa toda cheira roteiro ficcional. Mas, vai-se lá saber no que tudo isso vai dar, sendo muito provável que os envolvidos no projeto acabem conseguindo realizar aquilo a que se propõem. Enquanto isso não acontece o melhor é fingir que, afinal, vivemos aqui neste planeta o qual devemos conservar a todo custo, sem sonhar com as possibilidades de importar do espaço soluções para as nossas necessidades.