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O chá da meia-noite

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Não sei se ainda se fala sobre o famoso chá. Corria que em hospitais a vida de alguns doentes, principalmente os idosos, seria abreviada pela enfermagem. Gente internada a muito tempo e sem perspectivas de melhora receberia o chá e passaria desta para a melhor.

Não imagino como seria o preparo do chá. Talvez a ele fosse acrescentado algum veneno que não deixaria vestígios caso alguma autópsia fosse realizada. É fato que muita gente tinha a existência do chá e sua utilização como certa e rotineira. Daí que se temia a internação. Conheci pessoas que preferiam tratar-se e até vir a morrer em casa do que aceitar internação para receber cuidados médicos.

Agora noticia-se que um enfermeiro alemão confessou ter matado 100 pessoas. Pacientes internados no setor de terapia intensiva eram vítimas do assassino em série. Consta que ele injetava drogas, provocando parada cardíaca. Depois aplicava-se na reanimação do paciente quase nunca bem-sucedida. Fazia isso para impressionar seus colegas de trabalho, destacando-se por salvar vidas. Autoridades desconfiam que o número de pessoas assassinadas na verdade chegue a duzentas.

Conheci uma senhora que de modo algum concordaria em ser internada pelo receio de receber o chá da meia-noite. Vez ou outra tornava ao assunto, recordando a seus parentes a importância de seu pedido. Entretanto, quando ela ficou gravemente doente não houve outro meio senão o de interná-la. A filha a acompanhava junto ao leito durante ao dia, mas a deixava aos cuidados da enfermagem no período da noite. Aconteceu que, certa manhã, ao retornar ao hospital, a filha não encontrou a mãe no quarto. Ela falecera durante a madrugada.

Não sei dizer se a família daquela senhora atribui o falecimento dela a outros fatores que não a doença. Pesa sobre a opinião a garantia da filha de que sua mãe havia melhorado e, de repente, veio a falecer.

A mulher temia vir a ser assassinada no leito hospitalar. Internada contra a sua vontade veio a falecer numa madrugada, conforme temia.