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Juízes
O fato é: não sabemos em quem acreditar. Tamanha disparidade de opiniões deixa confusos pobres mortais não conhecedores das letras da lei. Quando o presidente do STF determina a suspenção de determinado tipo de investigação surge a pergunta do cidadão comum: mas, isso é correto? Quando o STF se põe a discutir a prisão em segunda instância o cidadão comum, acossado pela insegurança, se pergunta se isso não tornará o país mais perigoso. Que dizer de um procurador geral da República que, após deixar o cargo, publica livro no qual faz confissões estarrecedoras?
Isso sem falar na Lava-jato. Fomos convencidos da grande obra de procuradores que identificaram monstruosos desvios de dinheiro naquele que se tornou o maior caso de corrupção da história do país. Agora surgem comentários nos quais os mesmos procuradores são acusados de usos indevidos da lei, prejudicando envolvidos nas maracutaias.
Enfim, em quem devemos acreditar para colocar a cabeça no travesseiro e dormir sossegados porque existem pessoas cuidando da manutenção da lei no país?
Juízes. Aceite-se que são pessoas como as outras, expostas a erros e acertos. Há bons e maus juízes. Há aqueles que são acusados de corrupção. Mas, no geral, espera-se que ao optar por carreira tão importante o homem que se torna juiz empreste dignidade ao cargo. Isso aprendi com um tio que foi juiz em cidades do interior de São Paulo.
Eu era estudante, cursando o que hoje se chama Ensino Médio, quando fui morar em casa do meu tio. Pude acompanhá-lo no exercício de sua profissão, observá-lo nas muitas horas em que se debruçava sobre processos, analisando-os cuidadosamente. Certa ocasião eis que veio ele ao meu quarto, em meio à madrugada. Precisava conversar com alguém. Importunava-o sentença que deveria proferir, acossava-o a dúvida. Naquela madrugada expôs-me o caso, perguntando-me sobre a minha opinião. Sabia ele que, em verdade, eu não teria nada a acrescentar. Falava o juiz consigo mesmo, aclarando suas ideias. Não imagino qual terá sido a conclusão do caso. Mas, tenho certeza de que o juiz terá agido com a máxima correção.
Meu tio orgulhava-se de suas sentenças, muitas deles publicadas como modelo na Revista dos Tribunais. Quando surgia uma delas, publicada na Revista, ele me chamava e dizia: seu tio não tão pouco assim.
Talvez por ter convivido com um juiz tão sério eu tenha formado opinião bastante respeitosa em relação à categoria que decide sobre a vida de tanta gente. Por esse mesmo respeito tenho grande dificuldade em entender - e aceitar - tantas marchas e contramarchas de opiniões dadas por pessoas cuja função á fazer valer a lei e garantir o bem-estar comum.
Mas, esses são outros tempos.