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Calor
Não gosto de reclamar, mas convenhamos que o calor está demais. Há dois dias vi uma reportagem sobre o calor no Rio. Os banhistas reclamavam de que a temperatura da água do mar estava elevada. Água quente no mar pode? Pessoas entrevistadas diziam que mesmo no verão a água do mar em Copacabana se mantem fria. Agora os banhistas não têm com o que se refrescar, exceto os chuveiros da orla.
Também li que os paulistanos têm do que reclamar. Desde 21 de dezembro as temperaturas na capital oscilam em torno dos 30º C. Durante o dia sol inclemente; tempestades no fim das tardes, enchentes e noites quentes.
O Brasil é país tropical, nascemos aqui, estamos habituados, mas nem tanto. É se proteger com o ar condicionado ou suar, não há meio termo. Dá pena de gente obrigada a usar ternos nessa época. Advogados e outros profissionais sofrem dentro de seus costumes e gravatas.
Mas, o que me leva a mais uma vez reclamar não é bem o fato de que os dias estão muito quentes. O que na verdade me incomoda é assistir ao descaso das pessoas com a água e o lixo. Já começam a se multiplicar os insetos que não nos dão sossego com sua fome de sangue. Pernilongos, mutucas e o sempre temido Aedes aegipti que de uma hora para outra pode desencadear uma epidemia de dengue.
O fato é que não dá para entender o descaso com águas paradas e lixo acumulado nos quintais de muitas casas. De meu apartamento vejo, com frequência, quintais nos quais não se tem o menor cuidado com a prevenção da proliferação de insetos. E isso apesar das campanhas de conscientização popular que ensinam e advertem sobre o perigo das epidemias de dengue.
Há uns quatro anos um inseto fez-me a gentileza de inocular no meu organismo o vírus da dengue. Desenvolvi todo o quadro clínico da dengue ao qual se acrescentou uma pneumonia. Olhe que fui bem cuidado e superei a doença, mas imagino o que possa ser o destino de pessoas sem recursos. Se as pessoas tivessem noção real do que é estar com dengue e suas consequências talvez cuidassem melhor de vasilhames e pneus velhos nos quais se acumula a água parada.
Janeiro se aproxima do fim e não há previsão e que o calor se atenue. Penso que as autoridades estão um pouco desleixadas em relação à campanha de prevenção da dengue. O assunto do dia-a-dia é o calor. Não há uma só vez em que eu encontre alguém no elevador e essa pessoa não reclame do calor. Será que é assim no polo oposto das temperaturas muito baixas? O hemisfério norte continua vivenciando um de seus piores invernos. Nevascas e temperaturas que atingem 20º graus negativos provocam cancelamentos de voos, acidentes em estradas e difícil circulação nas cidades. Imagino pessoas comentando sobre o rigor do frio. Mas, pensar nisso sob um verão desses soa absurdo.