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O tamanho dos sonhos
Sonhar de olhos abertos talvez seja algo mais comum aos jovens. É nos começos de vida e atividades que se estabelecem metas, muitas vezes dimensionando-se com algum exagero os sucessos a serem alcançados. Isso não representa que os mais velhos não sonhem: mesmo pessoas bem sucedidas mantêm vivas esperanças de novas realizações. A vida é um continuo aprendizado e faz parte da natureza do homem enfrentar e vencer desafios.
Há uma célebre resposta de Pablo Picasso quando, certa vez, foi perguntado se a sorte influíra na sua carreira. Respondeu o pintor:
- Todas as vezes que a sorte me procurou ela me encontrou trabalhando.
Essa afirmação coloca o fator sorte sob condicionamento. Não existe a sorte de ganhar na loteria se não se compram bilhetes, raramente se é selecionado para um ótimo emprego sem preparo e formação anterior e assim por diante. Há pessoas que têm mais sorte? Existem os azarados? Parece que sim. O Marechal Hermes da Fonseca, presidente do Brasil no período de 1910-1914, era considerado pelo povo um sujeito azarado. Apelidado como “seu Dudu” parece que as coisas não davam muito certo para ele. Tinha, segundo seus contemporâneos, um célebre pé-frio. Tanto assim que no carnaval de 1910 o maior êxito foi uma polca de gozação ao presidente:
“Ah Filomena, se eu fosse como tu
Tirava a urucubaca da careca do Dudu.”
Mas não é a sorte o tema dessas mal traçadas. Aceita-se que ela possa influir sobre a realização dos nossos sonhos. Quanto a mim, prefiro substituir a palavra “sorte” por “acaso”. Ainda assim restam dúvidas: aquele encontro inesperado com a pessoa que indicou você para um grande emprego ou negócio foi sorte ou acaso? Deixo a questão de lado e volto aos sonhos.
Salvador, capital da Bahia, está às voltas com um grande surto imobiliário. Tão grande que há falta de mão-de-obra qualificada. Para suprir a deficiência existem organizações de treinamento. Uma delas é a ONG que anualmente prepara cerca de 300 pessoas para o mercado de trabalho da construção civil.
Foi nessa ONG que um repórter entrevistou um rapaz prestes a trabalhar na construção de um prédio. Perguntado sobre as suas expectativas, o rapazinho se disse feliz e acrescentou:
- Quero trabalhar e ainda vou conseguir estudar arquitetura. É preciso sonhar. Somos do tamanho dos nossos sonhos. Se o sonho é pequeno, seremos pequenos. É preciso sonhar grande.
As afirmações vêm de rapaz oriundo de populações carentes. O sonho de fazer arquitetura é grandioso para ele tais as dificuldades que encontrará pelo caminho até torná-lo realidade. Acredito que ele consiga: há em seu olhar e nas palavras que diz aquela rara determinação capaz de mover montanhas.
Desliguei a televisão e as palavras do rapaz não me saem da cabeça. Impossível deixar de pensar nos meus sonhos aos dezessete anos de idade. Realizaram-se? E os seus meu caro leitor, o que aconteceu a eles? Cá entre nós, se falta alguma coisa, ainda dá tempo: é só não parar de sonhar e ir à luta.