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Passeio de um homem de 110 anos
Um homem de 110 anos faz um passeio pelas ruas de Santiago do Chile. Circunspecto, caminha com seu passo lento e não cumprimenta ninguém. A quem tenta detê-lo para uma conversa ou abraço ignora. Em seu trajeto percorre ruas conhecidas das quais provavelmente sinta saudades. O passeio dura quatro horas. Pessoas se reúnem para ver o homem que passa. Até que ele para defronte uma porta que se abre e entra, desaparecendo.
Pablo Neruda passeou em Santiago na comemoração dos 110 anos passados de seu nascimento. Morto há 40 anos a presença do poeta só foi possível graças a um holograma. Pudemos vê-lo novamente, filmá-lo e divulgar as imagens pela internet. Encontrei-me com Neruda hoje pela manhã ao ligar o computador e vê-lo como holograma. Voltaram-me as palavras de suas memórias no livro “Confesso que vivi” publicado depois da sua morte.
Pablo Neruda, grande poeta, foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura. Orgulho do povo chileno ele faleceu 12 dias depois do golpe militar em que Augusto Pinochet tomou o poder de Salvador Allende. Ainda hoje perduram suspeitas de que teria sido assassinado. Marxista, Neruda poderia representar um foco de resistência à terrível ditadura estabelecida com a chegada de Pinochet ao poder.
Há poucos anos os restos mortais de Neruda foram exumados e concluiu-se que de fato morrera em consequência de um câncer na próstata. Mas, seu motorista na época em que morreu insiste em afirmar que seu patrão foi assassinado.
Aquela América Latina sob o domínio de ditaduras militares que conversavam entre si e perseguiam opositores pertence ao passado. Allende matou-se dentro do Palácio de La Moneda, em Santiago, resistindo ao golpe militar. Neruda morreu no leito de um hospital. Ambos fizeram história. O legado de Pablo Neruda são coleções de poemas, belíssimos, encontrados em seus livros. Como esse:
Quero apenas cinco coisas.
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser… sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.