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A máscara do Tiririca
Caro Mano
Olhe aqui, não dá pra dizer com certeza se o carnaval brasileiro é mesmo aquele previsto no calendário ou se dura o ano inteiro. A verdade é que entre nós existe uma estranha compulsão para o que hoje em dia se chama de “junto e misturado” de modo que as coisas ficam muito imprecisas.
O fato é que de vez em quando temos a impressão de que a ordem vai vencendo a desordem e as coisas começam a se separar para que possamos distinguir umas das outras. De um ano para outro promessas de seriedade são feitas, mas, no fim, do que a turma gosta mesmo é de bagunça. Quem discordar que fique aí no seu lugar, no seu quadrado, com a sua discordância, ensimesmado num conjunto de teorias sociológicas que não fazem muito sentido. Aliás, que fique bem claro: o povo brasileiro é resistente a caracterizações; teorias que tentam explicar o modo de ser da nossa gente em geral ficam pela metade porque sempre aparece alguém para cutucar as generalizações. Claro que isso também tem um lado bom, veja aí o surgimento do Pelé, por exemplo, um cara fora das regras que fazia o impossível e levou à loucura os estudiosos que se meteram a explicar o que havia de diferente nele para ser capaz de fazer tanto.
O Brasil é cheio de “esses-uns” que são uns carinhas que troçam das regras, para o bem e para o mal é bom que se diga. Veja aí o Fernandinho Beira-Mar: o cara é o bandido dos bandidos, está preso numa cela de presídio de segurança máxima e consegue ser capa da principal revista semanal brasileira. Olá, estou falando com você, preste atenção Mano: o Fernandinho não é nenhum carinha que deu um golpe astronômico no sistema financeiro e aparece na capa das revistas sendo preso, vestindo terno, gravata e tudo o mais. Nada disso! O Fernandinho é um mal-ajambrado com cara de quase nada, que comanda de dentro da prisão o tráfico em grande parte do país. Não se pergunte como isso é possível: estamos falando do Brasil, lembra-se Mano? É o país de contradição, aliás, põe contradição nisso.
Então. Está aí governando a nova governante, ela que é mulher e tem o jeito dela de governar. Do lado dela, por todo lado, estão os políticos que a gente espera que, a partir de agora, façam tudo na maior seriedade. É aí que entra o “junto e misturado” que confunde a gente. Estou falando desse outro “esse-um”, o Tiririca, que fez o favor de bagunçar a nossa cabeça pela fusão de política com palhaçada. Até aí a gente ia se acostumando, mesmo depois daquela história de que o novo deputado federal é capaz de ler, mas não entende o que esta lendo. Ainda assim o Tiririca foi muito bem recebido em Brasília, notório como ele é, ainda mais tendo por trás dele um montão de votos capaz de fazer inveja a muitos políticos de ofício. Olhe que a coisa ia direito, a gente se habituando, conseguindo separar as coisas, afinal o Tiririca apareceu em Brasília de terno e tudo e vai que ele se torna um bom deputado, por que não, né Mano? Mas, no Brasil, as coisas não parecem ser feitas para durar de modo que a ordem e a desordem mais parecem duas palavras escritas numa placa que o vento muda de lado a toda hora. Então a confusão recomeçou agora que foi lançada a máscara do Tiririca para o carnaval. Olhe que os fabricantes não estão dando conta, tantas máscaras estão sendo vendidas. E sabe o que disse uma fabricante das máscaras do Tiririca? Mano, ela disse que o sucesso do produto era mais que esperado, afinal político e palhaço juntos só pode dar em carnaval.
Depois de ler isso resolvi escrever essas mal traçadas, Mano. Ô cara, não tente entender o Brasil: muita gente queimou as pestanas em cima desse assunto e, cá entre nós, no que deu o palavrório todo deles?
Que Deus abençoe você, Mano, e bom carnaval.
PS: a máscara do Tiririca custa 7 reais.