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Tiro no peito
Não creio que pena de morte funcione no sentido de coibir crimes. Criminosos não deixariam de cometer crimes apenas pelo medo de serem pegos e condenados à morte. Discutível, não? Não me lembro em que país o roubo é punido decepando-se a mão do ladrão. Nem por isso deixam de existir os ladrões e roubos seguem acontecendo.
Execuções sempre impressionam. Há o longo período em que o condenado vegeta no corredor da morte. Datas de execução marcadas, adiamentos, recursos jurídicos e até mudanças de data nos últimos instantes fazem parte de um sistema do qual se ocupam a mídia e o interesse da população. A decretação do fim da vida e o ato de encerrá-la leva-nos a ponderar sobre até onde vai o poder dos homens que decidem o destino reservado a uma pessoa.
Semana passada foi fuzilado na Indonésia um brasileiro, o primeiro da nacionalidade a ser condenado e executado. O fato de ele ser brasileiro obviamente atraiu a atenção do país e provocou ações do governo no sentido de interceder pela suspensão da execução. A própria presidente da República chegou a falar com o presidente da Indonésia pedindo a ele a suspensão da execução. Infelizmente as ações diplomáticas não deram o resultado esperado.
Talvez porque o condenado fosse brasileiro pudemos acompanhar passo-a-passo todo o encadeamento de fatos que cercaram a execução. Ficamos sabendo, por exemplo, sobre o desespero do condenado que até a véspera não acreditava que viria a ser executado. Falou-se sobre o medo, o choro e o desespero dos últimos momentos. Nos jornais publicaram-se esquemas nos quais eram detalhadas as fases da execução, chegando-se ao momento em que o condenado, amarrado a um poste, seria submetido a um grupo de homens armados dos quais apenas três teriam em suas armas projéteis capazes de matar.
Os policiais da Indonésia seguiram à risca o ritual programado. O brasileiro foi fuzilado no dia e hora previstos e faleceu com um tiro em seu peito. Impossível imaginar o que terá se passado na cabeça desse homem em seus últimos instantes. O terror de saber-se à mercê de um pelotão de fuzilamento, a irreversibilidade de sua condição e o mergulho no desconhecido terão impactado sua mente e, talvez, num único segundo, o levado a raciocinar sobre a extensão de seu crime.
Um tiro no peito. A dor súbita e a morte. Punição rigorosa e de eficácia discutível.