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O público e o privado
A questão que se impõe, no caso Antônio Palocci, é a exata delimitação entre o público e o privado. Palocci, ministro da Casa Civil, é acusado de aumentar seu patrimônio em mais de 20 vezes no curto período de quatro anos. Comprou ele um apartamento de milhões de reais, um escritório e justifica-se dizendo que declarou seu patrimônio à Receita Federal. Quanto à origem do dinheiro afirma o ministro ser resultado de consultorias dadas através de sua empresa.
Não é a primeira vez que Antônio Palocci se vê envolvido em escândalos. O atual divide a opinião, curiosamente abrigando em lados opostos até mesmo correligionários e adversários do ministro: José Serra, opositor, declara-se contrário à investigação da origem do patrimônio; um deputado do PT considera importante o esclarecimento da situação.
Para os partidários de Palocci a fortuna adquirida nesses quatro anos é mais que normal, citando-se até os casos de FHC e Lula que teriam ganhado muito dinheiro em apenas um ano, fazendo palestras. Pensam de modo diferente os opositores para quem o ministro tem a obrigação de se justificar, declarando a quem prestou serviços de consultoria e o quanto recebeu de cada um. Por trás do discurso oposicionista existe a suspeita de tráfico de influência que muito pano tem dado para manga na história política do país. Nesse sentido é bom lembrar que, recentemente, a revista Veja publicou reportagem acusando um ex-ministro de governo de tráfico de influência.
Em relação ao caso Palocci a questão se situa entre dois polos opostos. De um lado fica o cidadão que, ao tempo em que não está a serviço do governo, trabalha, recebe por isso e declara seus ganhos à Receita. A esse cidadão deve-se o respeito ao sigilo de seus negócios desde que não figurem ilícitos à Receita Federal. Isso quer dizer que se Antônio Palocci não fosse figura pública ou ministro de Estado seu enriquecimento possivelmente se perderia entre outros tantos que acontecem por aí, às vezes miraculosamente.
O segundo polo é aquele em que Palocci, a partir do momento em que ocupa cargo público do alcance de um ministério, tem por dever a transparência de tudo o que faz, esclarecendo a fundo suas transações comerciais. Isso significa que, até certo ponto, ao assumir um cargo público abdica da algumas prerrogativas que possui enquanto cidadão comum. Se a essa sopa acrescentarem-se os interesses políticos da situação e da oposição em relação ao caso do ministro poderemos avaliar a complexidade da questão.
O caso que envolve o ministro Antônio Palocci faz lembrar a velha história da mulher de Cesar de quem se dizia que não bastava ser honesta, ela também tinha que parecer honesta. Não sendo esta a primeira vez de Palocci fica ele na posição da mulher de Cesar. Demais – e principalmente – existe a opinião pública, a gente que trabalha dando duro para receber seu dinheirinho, bem distante de negociatas que muitas vezes rendem milhões. É para a imensa legião de brasileiros que se reclamam esclarecimentos de Palocci, mantendo firme a confiança que as pessoas têm no trabalho e nos ganhos lícitos. Ainda assim, que não se desmereça o aspecto jurídico da questão, não se negando ao ministro os direitos que a ele cabem enquanto cidadão.
Posição difícil e complexa a do ministro, mas que não deve apoquentá-lo porque, para ficar com o dito popular, quem não deve não teme. Mais cedo ou mais tarde a verdade dará a suas caras, assim como o Sol insiste em brilhar a cada manhã.