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Viver na periferia
Honestamente, não perco um só minuto para pensar na minha condição de periférico. Habitante do terceiro-mundo habituei-me ao estado de coisas nessa parte do planeta, ao vai-e-vem da economia sempre claudicante, aos percalços impostos à democracia que, entre nós, chegou a ser suprimida nos longos anos da ditadura.
Ao tempo da crise da Baia dos Porcos estivemos a um passo de uma guerra nuclear. Naquela ocasião o imbróglio envolvendo americanos e russos atingira o seu clímax. Eis que, então, decidiu-se o governo brasileiro a enviar aos EUA um mediador para tentar acertos entre as partes. Ao que me consta o ilustre brasileiro foi ignorado. Os jornais da época criticaram a iniciativa do país em jactanciar-se, tentando impor-se em território para o qual não fora solicitado. Ou seja: aquilo era briga de cachorro grande na qual não teríamos participação.
Agora o imprevisível Donald Trump torna-se o homem mais poderoso do mundo ao vencer as eleições norte-americanas. A inesperada vitória do businessman gera uma reação em cadeia mundo afora. Governos apressam-se em solidarizar-se com Trump, declarando-se abertos a negociações e entendimentos. Mesmo a poderosa Alemanha, embora comedidamente, se diz pronta a negociações. Aqui o presidente não foge à regra e faz as saudações protocolares, dispondo-se a futuros entendimentos.
Bem, nem poderia ser de oura forma. O povo do país mais rico do mundo, o mais poderoso, decidiu-se por um bufão na presidência e isso preocupa os outros povos do mundo. Entretanto, impossível fugir à constatação de colunas vertebrais curvando-se diante do país detentor da maior economia do planeta.
Mas, a apreensão é maior entre os chamados periféricos. Trump não dará importância á América Latina, dizem os jornais. Ou: o Brasil não estará nos planos de Trump. Ou ainda: a crise brasileira enfrentará mais dificuldades com a vitória de Trump.
Eis aí um momento no qual sou convidado a me lembrar da minha condição de viver numa região periférica do mundo. País emergente, uma das maiores economia s do mundo, mas periférico. Sujeito às diabruras do cara de topete amarelo que no começo do ano vindouro assumirá a presidência. Ele que já promete de cara mandar embora dos EUA três milhões de imigrantes ilegais. Ele que imporá regras duras na imigração aos EUA etc.
A ver no que tudo isso vai dar.